11 de fevereiro de 2013 | 11h 03
Padre José Bizon*
Desde a eleição de Bento XVI como papa, várias pessoas
pertencentes a outras denominações cristãs e tradições religiosas perguntaram: "o
que será do Ecumenismo e do Diálogo Inter-religioso, de agora em diante?"
Essa pergunta, acredito, é consequência da publicação da Declaração
"Dominus Iesus", quando Joseph Ratzinger era prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé. Para responder, vou fazer duas observações.
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Primeira: cada cardeal, quando eleito papa, traz consigo
formação, cultura, espiritualidade e personalidade próprias. Traz o seu perfil,
o que é comum em cada chefe de Estado, por exemplo. E, quando um papa é eleito,
ele não é eleito do nada, mas no seio da Igreja Católica, que tem Tradição,
Magistério e as Escrituras. E, como celebramos o Jubileu de Ouro do Concílio
Ecumênico Vaticano II, com as constituições, os decretos e as declarações que
norteiam a vida da Igreja, acredito que Bento XVI nos seus discursos, mensagens
e alocuções e, de modo particular, nas viagens apostólicas, fez valer o
Concílio Vaticano II, a Carta Magna da Igreja Católica.
Em segundo lugar, recorro às próprias palavras do papa Bento
XVI:
- "O nosso encontro de hoje é particularmente
significativo. Ele permite, antes de tudo, que o novo bispo de Roma, pastor da
Igreja Católica, repita a todos, com simplicidade: Duc in altum! Prossigamos na
esperança. Seguindo as pegadas dos meus predecessores, em particular de Paulo
VI e de João Paulo II, sinto a enorme necessidade de afirmar de novo o
compromisso irreversível, assumido pelo Concílio Vaticano II e prosseguido
durante os últimos anos graças também à ação do Pontifício Conselho para a
Promoção da Unidade dos Cristãos". (Discurso do papa Bento XVI aos
Delegados das outras Igrejas, Comunidades Eclesiais e Tradições Religiosas,
25/04/2005)
- "Nos primeiros dias do meu Pontificado, afirmei que a
'minha tarefa principal é o dever de trabalhar incansavelmente para reconstruir
a plena unidade visível de todos os seguidores de Cristo'. Além das boas
intenções, isto exige 'gestos concretos que entrem nos corações e despertem as
consciências... inspirando em cada um a conversão interior, que constitui o
requisito prévio para todo o progresso ecumênico'." (Missa pro Ecclesia,
5).
- "Espero que a vossa visita à Santa Sé tenha sido
fecunda, revigorando os vínculos de compreensão e de amizade entre nós. O
compromisso da Igreja Católica na busca da unidade cristã é irreversível. Por
conseguinte, quero assegurar-vos que ela deseja dar continuidade à cooperação
com o Conselho Mundial das Igrejas". (Discuros do papa Bento XVI ao
secretário-geral do Conselho Mundial das Igrejas, 16/06/2005).
- "Se é verdade que o Senhor chama vigorosamente os
seus discípulos a construir a unidade na caridade e na verdade; se é verdade
que o apelo ecumênico constitui um convite urgente a reconstruir, na
reconciliação e na paz, a unidade entre todos os cristãos, gravemente
prejudicada; se é verdade que não podemos ignorar o fato de que a divisão torna
menos eficaz a sacrossanta causa da pregação do Evangelho a todas as criaturas
(cf. Unitatis redintegratio, 1), como é que nos podemos subtrair à tarefa de
examinar com clareza e boa vontade as nossas diferenças, enfrentando-as com a
íntima convicção que elas devem ser resolvidas? A unidade que nós buscamos não
é absorção nem fusão, mas respeito pela plenitude multiforme da Igreja que, em
conformidade com a vontade do seu fundador Jesus Cristo, deve ser sempre una,
santa, católica e apostólica". (Discurso à Delegação do Patriarcado
Ecumênico de Constantinopla, 30/06/2005).
Quando o papa esteve no Brasil para a 5ª Conferência Geral
do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, em Aparecida, em maio de 2007, ele
repetiu a frase de sua primeira mensagem no final da celebração eucarística com
os cardeais eleitores na Capela Sistina, quarta-feira, 20 de abril de 2005:
"Não bastam as manifestações de bons sentimentos. Fazem falta gestos
concretos que penetrem nos espíritos e sacudam as consciências, impulsionando
cada um à conversão interior, que é o fundamento de todo progresso no caminho
do ecumenismo".
No mesmo documento ele afirma que "o diálogo
inter-religioso, além de seu caráter teológico, tem um especial significado na
construção da nova humanidade: abre caminhos inéditos de testemunho cristão,
promove a liberdade e dignidade dos povos, estimula a colaboração para o bem
comum, supera a violência motivada por atitudes religiosas fundamentalistas,
educa para a paz e para a convivência cidadã: é um campo de bem-aventuranças
que são assumidas pela Doutrina Social da Igreja."
Merece destaque a mensagem do papa para o Dia Mundial da Paz
para o dia 1º de janeiro de 2011, intitulada Liberdade Religiosa, Caminho para
a Paz: "A liberdade religiosa está na origem da liberdade moral. Com
efeito, a abertura à verdade e ao bem, a abertura a Deus, radicada na natureza
humana, confere plena dignidade a cada um dos seres humanos e é garante do
respeito pleno e recíproco entre as pessoas. Por conseguinte, a liberdade
religiosa deve ser entendida não só como imunidade da coação, mas, também, e
antes ainda, como capacidade de organizar as próprias opções segundo a
verdade...Se a liberdade religiosa é caminho para a paz, a educação religiosa é
estrada privilegiada para habilitar as novas gerações a reconhecerem no outro o
seu próprio irmão e a sua própria irmã, com quem caminhar juntos e colaborar
para que todos se sintam membros vivos de uma mesma família humana, da qual
ninguém deve ser excluído."
No dia 27 de outubro de 2011, ao completar 25 anos do
Encontro de Oração em Assis pela Paz, o papa Bento XVI disse: "Unidos para
rezar, não para rezar unidos" porque "quando nos encontramos para
rezar pela paz é preciso que a oração se dirija pelos caminhos distintos que
são próprios das várias religiões". E continuou "O espírito de Assis
(...), opõe-se ao espírito de violência, ao abuso da religião como pretexto
para a violência". As tradições religiosas, ao viver o Espírito de Assis ,
contribuem para o respeito do outro, para o diálogo, num anúncio que invoca a
liberdade e a razão pela paz e pela reconciliação.
O que o papa disse:
Muçulmanos: No
encontro de Bento XVI com as Comunidades Muçulmanas, em Berlim, em 23 de
setembro de 2011:
"É necessário empenhar-se constantemente por um melhor
e recíproco conhecimento e compreensão. Isto é essencial (...) para uma
convivência pacífica e para (...) a construção do bem comum no âmbito de uma
mesma sociedade)". A Igreja Católica empenha-se, firmemente para que seja
dado o justo reconhecimento à dimensão pública da pertença religiosa. Por isso,
é preciso "manter o respeito do outro. Este respeito recíproco cresce
somente na base de um entendimento sobre alguns valores inalienáveis, próprios
da natureza humana, sobretudo a dignidade inviolável de cada pessoa como
criatura de Deus".
Luteranos: Bento
XVI, no Convento Agostiniano de Erfurt:
"O pensamento de Lutero, a sua espiritualidade inteira
era totalmente cristocêntrica: o seu critério hermenêutico era "aquilo que
promove Cristo". O que pressupõe que Cristo seja o centro da nossa
espiritualidade e que o amor por Ele oriente a viver juntamente com Ele,
oriente nossa vida". "A coisa mais necessária para o ecumenismo é
(...) sob a pressão da secularização, não percamos (...) as grandes coisas que
temos em comum nas grandes diretrizes da Sagrada Escritura e nas profissões de
fé do cristianismo antigo". E acrescenta: "O grande progresso ecuménico
dos últimos decénios consiste, no fato de nossa comunhão, oração e cantar
juntos, no compromisso comum em prol da ética cristã face ao mundo, no
testemunho comum do Deus de Jesus Cristo neste mundo".
Judeus: No
encontro com representantes da comunidade judaica, em Berlim, o papa reforçou o
diálogo, em 22 de setembro de 2011:
"Os acontecimentos sofridos pela Shoá é uma negação do
homem e por isso mesmo, é uma negação a Deus. Desprezar o homem é desprezar a
Deus e a dignidade que ele mesmo quis dar ao ser humano quando o criou.
"Com vivo apreço quero aludir também ao diálogo da Igreja Católica com o
judaísmo, um diálogo que se vai aprofundando". E disse ainda: "O
intercâmbio entre a Igreja católica e o Judaismo na Alemanha produziu já frutos
prometedores. Relações duradouras e confiantes se desenvolveram".
* É mestre em Ecumenismo pela Pontifícia Universidade Santo
Tomás, de Roma
Nota pessoal:
Este artigo é de grande pertinência e por isso o posto na íntegra e faço-o pela
importância e sendo um padre, mestrado em ecumenismo, refere o principal foco
dado por Bento XVI.
Como uma amiga dizia: O que é que isto quer dizer? Respondo desta
maneira; antigamente nas passagens de nível havia uma placa que dizia “Pare,
escute e olhe”
Fonte http://www.estadao.com.br/noticias/vida,cinco-curiosidades-sobre-a-trajetoria-de-bento-xvi,995227,0.htm
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