VATICANO ABRE A PORTA AOS DISSIDENTES ANGLICANOS

Por Francis X. Rocca © 2009 Religion News Service

Com implicações de longo alcance ecuménico, o Vaticano em 20 de Outubro anunciou planos para abrir as portas aos anglicanos. Trata-se de um paradigma que ainda não se conhecem os contornos, a Igreja Católica Romana vai aceitar o ministério de mulheres, sacerdotes casados, casamentos de homossexuais e que mais?...

Citando "muitos pedidos" de anglicanos em todo o mundo, o Vaticano disse que o Papa Bento XVI permitiria a criação de novas dioceses nacionais em que ex-anglicanos podem aderir à Igreja Católica, mantendo muitas das suas formas tradicionais de culto.

O movimento representa uma grande mudança nas relações católico-anglicano, após mais de quatro décadas de diálogo ecuménico, que visa restaurar a "plena e visível unidade" entre as duas igrejas, separadas desde o século 16.

Mas o cardeal William Levada, um ex-arcebispo de São Francisco, que agora dirige o Congregação para a doutrina e fé do Vaticano, disse que a perspectiva de unidade "parecia retroceder" nos últimos anos. Esforços de alguns anglicanos para "acomodar actuais valores culturais" pela ordenação de mulheres e "homossexuais praticantes", como padres e bispos não são "consoante a Tradição Apostólica", disse ele.

Os 77 milhões de membros da Comunhão Anglicana tem sido profundamente dividida por uma crescente aceitação da homossexualidade nas suas filiais na América do Norte - incluindo a consagração de um bispo gay em New Hampshire e da bênção de uniões do mesmo sexo em algumas dioceses. Enquanto isso, mais de 1.300 sacerdotes anglicanos ameaçaram deixar a Igreja da Inglaterra – a Igreja Matriz da comunhão no mundo inteiro – se ele começa a ordenar mulheres como bispos.

Católica e Anglicana na terça-feira os líderes insistiram que o movimento do Vaticano, não prejudicaria as relações entre as igrejas. "Estamos decididos a que o nosso compromisso mútuo e de consulta sobre estas e outras questões devem continuar a ser reforçadas", disse o Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, líder espiritual da Comunhão Anglicana, numa declaração conjunta com o Arcebispo Vincent Nichols G. de Westminster , o líder dos católicos na Inglaterra e País de Gales.

Williams tentou assegurar os anglicanos de boas intenções de Roma.

"Esta nova possibilidade não é em nenhum sentido destinado a minar as relações existentes entre as nossas duas comunhões ou para ser um ato de proselitismo ou de agressão", Williams escreveu uma carta aberta aos bispos da Igreja da Inglaterra e aos primados de outras províncias anglicanas.

Num comunicado, a Igreja Episcopal, o ramo E.U. da Comunhão Anglicana, disse que o movimento do Vaticano "reflecte o que a Igreja Católica Romana, através da sua aceitação de paróquias rito anglicano, tem vindo a fazer há alguns anos de forma informal." A declaração acrescenta que as reuniões episcopais "continuarão a explorar todas as implicações nas nossas relações ecuménicas".

As novas dioceses católicas, chamadas "ordinárias e relacionais", serão criadas pelas conferências nacionais de bispos em resposta à demanda local, seguindo as orientações do Vaticano.

Cada diocese será dirigida por um clérigo anglicano antigo, que exercerá um papel administrativo e equivalente a liderança de um bispo. Homens solteiros em tais posições também serão elegíveis para a ordenação de bispos católicos, dando-lhes o poder de ordenar novos sacerdotes.

"Não há nenhuma estrutura semelhante na história moderna da Igreja Católica", disse o monsenhor William H. Stetson, que supervisionou pessoalmente a conversão de cerca de 100 sacerdotes Episcopal desde 1980. "Este é um momento histórico."

Os clérigos anglicanos, que já são casados serão elegíveis para a ordenação como sacerdotes católicos (mas não bispos) dentro da nova estrutura. A nova disposição não permite a perpetuação de um sacerdócio casado, o que alguns anglicanos pediram uma condição da sua conversão em Roma.

Os membros da nova diocese preservarão grande parte da liturgia anglicana e as tradições devocionais desenvolvidos ao longo dos mais de 450 anos desde que a Igreja da Inglaterra se separou da de Roma.

O objectivo é "respeitar a língua e as formas de sua adoração, e seus hinos, as coisas intangíveis, de facto, que são difíceis de descrever - para capturar aqueles de uma forma que é agradável para eles, mas ainda assim completamente de acordo" com a doutrina católica, disse Arcebispo Joseph Augustine Di Noia, que detém o posto de número dois do Vaticano Congregação para o Culto Divino.

O anúncio de terça-feira veio após anos de discussões entre o Vaticano e alguns grupos conservadores anglicanos, incluindo a Comunhão Anglicana Tradicional (TAC), que afirma representar 400.000 crentes internacionalmente.

Cardeal Walter Kasper, chefe do Concílio Ecuménico do Vaticano, tem repetidamente e publicamente desencorado a conversão em massa de anglicanos à Igreja Católica. "Nós não estamos a pescar num lago Anglicano", Kasper afirmou isto numa conferência de imprensa do Vaticano na semana passada.