9 de dezembro de 2009

América não se compromete em Copenhaga


por JOÃO CÉU E SILVA, em CopenhagaHoje


América não se compromete em Copenhaga
Se Barack Obama não tivesse alterado a data da sua deslocação a Copenhaga, hoje seria o grande dia. Ao mudar para o dia 18, criou expectativas que os seus 'boys' desfazem.
O aviso está feito em Copenhaga: a América seguirá o seu caminho
Para futurologia na Conferência de Copenhaga bastam os políticos que vêm à capital dinamarquesa dar razão aos cientistas que alertam para a inevitabilidade do aquecimento global. Pragmáticos, como sempre, os representantes do homem mais poderoso do mundo vão-se encarregando de deitar por terra qualquer esperança de que os Estados Unidos se verguem à pressão do resto do mundo para deixar de ser responsável por 20% das emissões de CO2 no planeta.
Um primeiro alerta fora dado logo, no primeiro dia dos trabalhos da COP15, pelo especialista Jonatham Pershing ao dizer que o seu país já se comprometeu com os valores até onde pode ir. Ontem, a subsecretária da Administração Obama Maria Otero foi tão clara como Pershing, na véspera, ao afirmar: "Não estamos sós. Os responsáveis pelos restantes 80% têm de fazer o mesmo que os EUA."
O que é "o mesmo" para Otero? A primeira promessa que faz é que, dentro de três anos, os EUA estarão "com grandes desenvolvimentos" na tecnologia para combater o CO2 e essas medidas irão corrigir o protagonismo norte- -americano. Enumera, em seguida, uma série de sectores em que há legislação aprovada - "ontem mesmo", revela - e que fará os carros gastarem e poluírem muito menos; avançar numa campanha localizada para reduzir gastos de electricidade, bem como investir na tecnologia das energias renováveis e na colaboração com vários países em projectos ambientais, como são os casos já em curso com a China, o Chile e o Brasil.
Para que não restassem dúvidas da seriedade das propostas de Obama, existem já várias parcerias com o sector privado para alterar radicalmente a situação. Antes de terminar a passagem de informação para quem quisesse entender o modo como os EUA vão lidar com o acordo a acertar em Copenhaga, Maria Otero deu um exemplo de como a realidade pode mudar na agricultura: "Em África, muitos agricultores estão a utilizar a Internet e o telemóvel para regularizar caudais dos seus rios."
Outro responsável da Administração Obama, David Sandelow, especifica as iniciativas e medidas em curso para reduzir a emissão de CO2 até 2016 e anuncia que, de 2012 a 2042, os EUA vão cortar mais 1,1 mil milhões de toneladas de carbono. Sandelow enunciou a deslocação de sete secretários de Estado a Copenhaga, para preparar o caminho da estrela de todos os governos que ficarão na fotografia oficial da COP15: Obama. Diga-se que o seu discurso foi tão empolgante para os jornalistas dos EUA, que até bateram palmas.
As dúvidas do mais alto representante da ONU, em Copenhaga, sobre as condições em que os EUA colocam a assinatura têm razão de ser. Questionado sobre o compromisso norte-americano para viabilizar o acordo, Yvo de Boer faz um ar de enfado e diz: "As pessoas não vivem de declarações políticas." Instado a comentar substancialmente, acrescenta: "É importante a sua palavra. Praticamente estamos nas mãos dele."

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