"Os cristãos perseguidos no mundo: entre indiferença e cumplicidade"
Autor de um livro muito interessante, Por que se matam cristãos no mundo de hoje? A nova cristianofobia, prefácio por Denis Tillinac (Éditions Maxima, 2011), Alexandre del Valle, especialista em geopolítica e relações internacionais, publicou em 24 de dezembro um longo estudo no blogue Atlantico, intitulado “Os cristãos perseguidos no mundo: entre indiferença e cumplicidade” Aqui está ele. Merece ser lido.
Todos os anos, na véspera de Natal, enquanto os europeus vivem a comemoração do nascimento de Cristo como uma festa alegre, os cristãos que vivem onde o cristianismo é perseguido vão à missa da meia-noite com medo. A cada ano, de fato, os cristãos nesses países são atacados na frente de suas igrejas. A mensagem de seus torturadores é clara: para estar seguro, deve-se partir ou deixar de ser cristão.
O número de cristãos perseguidos em todo o mundo varia entre 100 e 150 milhões de pessoas. Este número em constante aumento tornou o cristianismo a religião mais perseguida. De acordo com a Portas Abertas, “um cristão morre a cada cinco minutos.” E, como explicou Marc Fromager, diretor da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), “nos 131 países de cultura cristã, não há nenhum em que a legislação sobre a liberdade religiosa deixe a desejar. De 49 países de cultura muçulmana, 17 não toleram qualquer outra religião e controlam rigidamente crentes não muçulmanos, 19 reconhecem teoricamente a liberdade religiosa, mas não a aplicam na prática. Os cristãos são o grupo religioso mais discriminado no mundo:. 75% dos casos de violações à liberdade religiosa dizem respeito a eles. “
E o pior nessa cristianofobia mundial é a indiferença que a rodeia. Certamente, os ataques contra os cristãos no Iraque e no Egito em 2010-2011 reivindicados pela Al-Qaeda foram bastante midiatizados. Mas os numerosos casos de “cristianofobia comum”, cometidos em nome da legislação em vigor ou com a cumplicidade das autoridades, são ignorados. Isso se explica pelo fato de que os mitos fundadores do politicamente correto e “política de apaziguamento” impedem de apontar os carrascos.
Em virtude do primeiro mito, que faz do comunismo a ideologia igualitária dos “oprimidos”, é impossível dizer que os regimes marxistas de ontem (ex-URSS) e de hoje (China, Coréia do Norte, etc .) são os mais terríveis perseguidores dos cristãos, os quais são para eles “agentes do Ocidente capitalista.” Lembremos àqueles que pensam que o comunismo está “morto”, com a queda da ex-URSS, que a China e a Coreia do Norte comunistas são os maiores assassinos de cristãos. Na Coréia do Norte, eles podem ser mortos apenas por causa de sua fé. Na China, a evangelização é punível com penas de prisão e os cristãos, suspeitos de serem “revolucionários”, só podem aderir às pseudo igrejas controladas pelo Partido Comunista. Um fato, entre tantos outros, em 25 de dezembro passado, quando os membros da igreja protestante Shouwang queriam celebrar sua missa, 50 deles foram presos. E desde abril de 2011, quando a igreja foi obrigada a celebrar o seu culto ao ar livre, por falta de local, mil fiéis foram presos. A cada ano, o número de cristãos condenados à prisão perpétua ou mortos na prisão, incluindo bispos e muitos sacerdotes – equivale a milhares de pessoas.
Em virtude do segundo mito, o de religiões asiáticas – hinduísmo e budismo – “convictamente pacíficas e tolerantes”, os crimes anti cristãos cometidos em terras budistas (Laos, Camboja, Vietnã, etc) ou hindus (os Estados da União Indiana dirigidos pelo partido nacionalista BJP) são ignoradas pelas boas cabeças da esquerda chique que pensam que o cristianismo é a pior das religiões. Ora, na Índia, os cristãos reprimidos por leis “anti proselitismo” são vistos como “traidores” da nação indiana hindu. Muitas vezes vindos da sub casta Dalit (os intocáveis), eles sofrem ataques dos extremistas hindus e dos partidos nacionalistas religiosos no poder em certos Estados. Assim, no estado de Orissa, mil cristãos foram mortos desde 2007; 50.000 Dalits fugiram de suas casas saqueadas pelos hindus, mas a maioria dos criminosos anti-cristãos escapou da justiça.
O terceiro mito, o do “Islã uma religião de paz e tolerância” impede de dizer que os cristãos (assimilados aos “cruzados ocidentais”) sempre foram tratados como cidadãos de segunda classe ou bodes expiatórios, por vezes, alvo de genocídios (como na Turquia, Sudão, etc) .. Na Nigéria, o maior estado muçulmano na África negra, que conta com 50% de muçulmanos e outro tanto de cristãos, 11 Estados Federais do norte (de maioria muçulmana) impuseram a sharia para os cristãos. Como todos os anos, os cristãos temem ataques islâmicos durante a Missa da Meia Noite, como os que mataram 50 fiéis durante o Natal de 2011. No Norte do país, que afundou em uma guerra civil desde que os partidos islâmicos recusaram a vitória eleitoral do presidente nigeriano cristão Jonathan Goodluck, o movimento terrorista islâmico Boko Haram (que significa “proibir o Ocidente”) já matou mais de 3000 cristãos desde 2009. Em 2012, 450 cristãos foram mortos, incluindo 185 na cidade de Kano. No Paquistão, os cristãos, que compõem 1,5% da população, são verdadeiros sub cidadãos. O caso de Asia Bibi, a mãe de familia cristã condenada à morte por “blasfêmia” depois de beber em um poço “reservado aos muçulmanos,” é apenas um caso (midiatizado), entre tantos outros (não midiatizados). Na Arábia Saudita, grande aliada dos Estados Unidos, o Cristianismo é proibido. Uma fatwa do líder supremo do wahhabismo estipula que as igrejas devem ser destruídas na Península Arábica. Recentemente, 30 cristãos foram detidos na prisão de Briman (Jeddah) por ter celebrado um ofício em privado. De dentro de suas celas, eles imploram em vão a ajuda da Organização das Nações Unidas e das organizações de defesa dos direitos humanos. Na Síria, os cristãos são atacados por salafistas e pelo Exército Livre Sírio (SLA), apoiado pela Turquia. Aqueles que vivem na área de Latakia, Tartus, Tal Khalakh ou no “vale dos cristãos”, outrora oásis de paz, são expulsos de sua aldeia por jihadistas. No Egito, onde a Irmandade Muçulmana fez aprovar uma constituição baseada na sharia, os cristãos são designados como responsáveis pelas manifestações laicas hostis ao Presidente Morsi e à sharia. Em dezembro de 2012, um tribunal do Cairo condenou à morte sete cristãos coptas por seu envolvimento no filme anti-Islã que incendiou o mundo. Mas o jornalista que foi o primeiro a transmitir o filme em uma televisão egípcia, entretanto, nunca foi incomodado … Caso policial entre tantos outros, sob o pretexto de que a camisa de um muçulmano teria sido queimada por um cristão, o bairro cristão de Dahshura foi inteiramente queimado por islâmicos … No Iraque, a situação é ainda mais trágica: desde o retorno dos islâmicos em 2003, após a queda do regime laico de Saddam Hussein, restam apenas 300.000 cristãos (contra 1,2 milhões em 1980). E na Palestina, na cidade de Cristo, em Belém, os cristãos andam encolhidos para se dissimular.
A conclusão se impõe por si mesma: permanecendo em silêncio, os líderes ocidentais, que poderiam exigir seus “aliados” muçulmanos o mesmo tratamento para os cristãos que eles exigem para os muçulmanos no Ocidente, são de fato cúmplices de governos que perseguem ou matam cristãos.
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