26 de janeiro de 2014

Editoras Alteram Palavras na Nova Versão da Bíblia

Uma iniciativa de duas conceituadas editoras está a causar enorme polémica no meio cristão. As organizações “Wycliffe Bible Translators” e “Summer Institute of Linguistics” resolveram alterar alguns termos na Bíblia para produzir Bíblias que não sejam ofensivas aos muçulmanos, e distribuir esses exemplares em países de maioria islâmica.

As Bíblias alteram os termos “Pai” para “Senhor” e “Filho” ou “Filho de Deus” para “Messias”. Segundo as editoras, essa iniciativa faz parte da tentativa de produzir uma Bíblia que seja “amigável aos muçulmanos” pois os termos originais soam ofensivos ou informais.

A polémica envolve também uma outra publicação chamada “Meaning of the Gospel of Christ” (Significado do Evangelho de Cristo) que traduz a palavra “Pai” para “Alá” e elimina ou muda a palavra “Filho”. Segundo o Portal Padom, um exemplo a ser citado é a passagem bíblica que Jesus ordena o “Ide”. Na versão “amigável aos muçulmanos” o versículo 19 do capítulo 28 do evangelho de Mateus ficou assim: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, limpando-os com água em nome de Alá, o Messias e seu Espírito Santo”.

Missionários, organizações cristãs protestantes dos Estados Unidos, tradutores, cristãos nativos de países muçulmanos e inclusive ex-muçulmanos convertidos ao cristianismo discordam da iniciativa e iniciaram um abaixo-assinado para que as editoras encerrem a produção desses livros. Uma grande quantidade já foi produzida e distribuída em diversos países de maioria islâmica, como Indonésia, Malásia e Bangladesh.

Reportagem em inglês da Christian Today sobre o assunto – http://au.christiantoday.com/article/new-arabic-bible-to-be-translated-without-terms-father-and-son-sparks-controversy/12753.htm

Nota: Existem vários aspectos que precisam ser levados em conta nessa discussão. Não sou um profundo estudioso de versões e traduções da Bíblia, portanto vou ater-me a um comentário mais sobre a polémica em si e não a respeito do mérito.

A boa convivência entre as religiões é saudável, até porque todos, segundo a Bíblia, são criaturas de Deus e a ideia é que tenham tolerância mútua. Isso não significa, no entanto, o mesmo que diálogo ecuménico ou atividades similares. Nesses casos, o que se vê é uma tentativa de unificação de movimentos religiosos em torno de pontos comuns que, muitas vezes, geralmente eliminam aspectos vitais de crenças como o cristianismo bíblico.

O fundo do diálogo ecuménico, como já mencionei num outros posts, parece ser muito mais de razão económica e de afirmação de poder do que propriamente por questões doutrinárias ou ideológicas mesmo. Quanto a essa polémica, é importante o alerta no sentido quanto a alterações nas traduções a partir dos termos originais da Bíblia. Digo isso pois, na minha opinião, tais modificações podem contradizer o que os próprios escritores bíblicos asseveram como o apóstolo João quando, no próprio livro de Apocalipse, adverte os leitores de que nada seja acrescentado ao conteúdo do livro sagrado.

É importante compreender que o respeito a outras religiões não pressupõe necessariamente alteração das próprias crenças. Isso já deriva para uma acomodação de interesses e aí a motivação já pode ser outra muito diferente. Chegaríamos ao ponto, também, de muçulmanos, por exemplo, considerarem modificações no seu livro sagrado, o Corão, por conta de uma aproximação mais amigável com os cristãos e outros religiosos?

Essa “Bíblia amigável” não pode ser uma versão descaracterizada das Escrituras, incapaz de ser reconhecida pelos próprios cristãos. Várias tentativas de adulterar a Bíblia já ocorreram e ainda ocorrem até de maneira velada no mundo e essa polémica dessa nova versão parece estar no mesmo sentido. A tolerância e o respeito entre as religiões são totalmente aceitáveis e dignos de serem realizados, mas algumas concessões são inadmissíveis.

Felipe Lemos – Realidade em Foco


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