Uma iniciativa de duas conceituadas editoras está a causar
enorme polémica no meio cristão. As organizações “Wycliffe Bible Translators” e
“Summer Institute of Linguistics” resolveram alterar alguns termos na Bíblia
para produzir Bíblias que não sejam ofensivas aos muçulmanos, e distribuir
esses exemplares em países de maioria islâmica.
As Bíblias alteram os termos “Pai” para “Senhor” e “Filho”
ou “Filho de Deus” para “Messias”. Segundo as editoras, essa iniciativa faz
parte da tentativa de produzir uma Bíblia que seja “amigável aos muçulmanos” pois
os termos originais soam ofensivos ou informais.
A polémica envolve também uma outra publicação chamada
“Meaning of the Gospel of Christ” (Significado do Evangelho de Cristo) que
traduz a palavra “Pai” para “Alá” e elimina ou muda a palavra “Filho”. Segundo
o Portal Padom, um exemplo a ser citado é a passagem bíblica que Jesus ordena o
“Ide”. Na versão “amigável aos muçulmanos” o versículo 19 do capítulo 28 do
evangelho de Mateus ficou assim: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as
nações, limpando-os com água em nome de Alá, o Messias e seu Espírito Santo”.
Missionários, organizações cristãs protestantes dos Estados
Unidos, tradutores, cristãos nativos de países muçulmanos e inclusive
ex-muçulmanos convertidos ao cristianismo discordam da iniciativa e iniciaram
um abaixo-assinado para que as editoras encerrem a produção desses livros. Uma
grande quantidade já foi produzida e distribuída em diversos países de maioria
islâmica, como Indonésia, Malásia e Bangladesh.
Reportagem em inglês da Christian Today sobre o assunto –
http://au.christiantoday.com/article/new-arabic-bible-to-be-translated-without-terms-father-and-son-sparks-controversy/12753.htm
Nota: Existem
vários aspectos que precisam ser levados em conta nessa discussão. Não sou um
profundo estudioso de versões e traduções da Bíblia, portanto vou ater-me a um
comentário mais sobre a polémica em si e não a respeito do mérito.
A boa convivência entre as religiões é saudável, até porque
todos, segundo a Bíblia, são criaturas de Deus e a ideia é que tenham
tolerância mútua. Isso não significa, no entanto, o mesmo que diálogo ecuménico
ou atividades similares. Nesses casos, o que se vê é uma tentativa de
unificação de movimentos religiosos em torno de pontos comuns que, muitas
vezes, geralmente eliminam aspectos vitais de crenças como o cristianismo
bíblico.
O fundo do diálogo ecuménico, como já mencionei num outros
posts, parece ser muito mais de razão económica e de afirmação de poder do que
propriamente por questões doutrinárias ou ideológicas mesmo. Quanto a essa polémica,
é importante o alerta no sentido quanto a alterações nas traduções a partir dos
termos originais da Bíblia. Digo isso pois, na minha opinião, tais modificações
podem contradizer o que os próprios escritores bíblicos asseveram como o
apóstolo João quando, no próprio livro de Apocalipse, adverte os leitores de
que nada seja acrescentado ao conteúdo do livro sagrado.
É importante compreender que o respeito a outras religiões
não pressupõe necessariamente alteração das próprias crenças. Isso já deriva
para uma acomodação de interesses e aí a motivação já pode ser outra muito
diferente. Chegaríamos ao ponto, também, de muçulmanos, por exemplo,
considerarem modificações no seu livro sagrado, o Corão, por conta de uma
aproximação mais amigável com os cristãos e outros religiosos?
Essa “Bíblia amigável” não pode ser uma versão
descaracterizada das Escrituras, incapaz de ser reconhecida pelos próprios
cristãos. Várias tentativas de adulterar a Bíblia já ocorreram e ainda ocorrem
até de maneira velada no mundo e essa polémica dessa nova versão parece estar
no mesmo sentido. A tolerância e o respeito entre as religiões são totalmente
aceitáveis e dignos de serem realizados, mas algumas concessões são
inadmissíveis.
Felipe Lemos – Realidade em Foco
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