"E, quando ouvirdes de guerras e de rumores de guerras, não vos perturbeis; porque assim deve acontecer; mas ainda não será o fim." (Marcos 13 : 7)
Uma equipa de inspetores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) chegou esta segunda-feira a Teerão para uma visita de 48 horas dedicada ao programa nuclear iraniano. Clarificar eventuais “dimensões militares” dos planos do Irão é a “mais alta prioridade” da delegação chefiada por Herman Nackaerts. A combinar uma retórica de confrontação com declarações de abertura para negociações, o regime recebe a missão internacional depois de ter interrompido a venda de petróleo a corporações francesas e britânicas.
São cinco os elementos que compõem a equipa de inspetores da AIEA enviada a Teerão. À frente da missão – a segunda desde o final de janeiro -, está o vice-diretor-geral e chefe do Departamento de Salvaguardas da Agência, Herman Nackaerts. À partida para a capital iraniana, o responsável sublinhava que “a mais alta prioridade” da sua equipa seria aclarar “possíveis dimensões militares” do programa nuclear em curso no país dos ayatollahs. Ao mesmo tempo, reconhecia que quaisquer progressos poderiam “levar tempo” a alcançar.
As baixas expectativas são transversais à generalidade das chancelarias ocidentais. Após a missão precedente, que decorreu de 29 a 31 de janeiro, Nackaerts admitira haver “ainda muito trabalho a fazer”, embora a visita tivesse sido “boa”, nas suas palavras. Agora a cautela persiste. Entre os responsáveis da AIEA ouvidos pelas agências internacionais impera a convicção de que os líderes iranianos vão, uma vez mais, negar aos inspetores a “necessária cooperação substantiva”.
Por outro lado, o regime continua a fazer um exercício de equilíbrio entre as demonstrações de força militar, as garantias de que o programa nuclear visa apenas fins energéticos - que as potências ocidentais encaram como vazias de significado - e declarações de abertura ao diálogo. A última destas declarações partiu no domingo do ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Ali Akbar Salehi.
Depois de ter enviado, na semana passada, uma carta à alta representante da União Europeia para a Política Externa, Catherine Ashton, em que eram prometidas “novas iniciativas” diplomáticas, Salehi veio afirmar que Teerão estaria “à procura de uma saída para a atual questão nuclear” de forma a que “ambos os lados ganhem”.
Foi também na semana passada que o Presidente iraniano tutelou uma sessão cuidadosamente encenada para dar conta ao mundo de “novos desenvolvimentos” no programa nuclear do país - Mahmud Ahmadinejad foi filmado pela televisão estatal a inspecionar varas de combustível nuclear de produção iraniana, enquanto o regime proclamava o desenvolvimento de centrifugadoras mais eficientes para o enriquecimento de urânio.
A atual escalada da tensão entre o Irão e as potências ocidentais principiou em novembro de 2011, quando a AIEA revelou ter recolhido dados que consubstanciavam a realização, em solo iraniano, de ensaios “relevantes para o desenvolvimento de um mecanismo explosivo nuclear”. Com base nesta alegação, Estados Unidos e União Europeia agravaram as sanções impostas a Teerão, incluindo um boicote ao petróleo iraniano a vigorar a partir de 1 de julho deste ano. Em janeiro, o regime retaliava com a ameaça de bloqueio do Estreito de Ormuz.
Em nova manobra de retaliação, Teerão anunciou ontem a suspensão, com efeitos imediatos, da venda de petróleo iraniano a companhias francesas e britânicas. O gesto de antecipação é significativo no plano simbólico, mas não acarreta prejuízos de monta para as economias visadas, que não dependem do crude do quinto maior exportador mundial.
A própria Comissão Europeia sustenta que o travão às exportações iranianas não levará a um cenário de escassez, até porque que há reservas suficientes para 120 dias.
Israelitas e norte-americanos em concertação
Outro dos focos de tensão reside na especulação sobre o que Israel poderá vir a fazer para conter as ambições iranianas – um dos cenários que tem sido aventado, quase sempre a coberto do anonimato, passaria por uma operação militar do Estado hebraico contra instalações nucleares do Irão, à semelhança do que aconteceu em 1981 no Iraque.
Carlos Santos Neves,
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