A fotógrafa desconhece a identidade deste casal Taslima
Akhter .
Taslima Akhter não sabe quem são nem que tipo de relação
mantinham. Tentou “desesperadamente” encontrar respostas para muitas perguntas
que surgiram a jorros depois de horas e horas a fotografar corpos aprisionados
nos escombros do edifício Rana Plaza, Daca, Bangladesh. Tentou “alguma pista”
que fosse, mas nada. Para já, o homem e a mulher que se abraçam no momento
fatal do colapso de há duas semanas que causou mais de 800 mortos continuam
anónimos. E perseguem o pensamento da fotógrafa que captou esta imagem que
agora se afirma como uma das mais simbólicas da tragédia.
Os acidentes ligados às condições precárias de trabalho e
exploração humana não são novidade para Taslima Akhter (Daca, 1974). Em
Novembro do ano passado, fotografou um incêndio numa fábrica de confecções que
causou mais de 100 mortos, trabalho que chamou a atenção do Lens, o blogue do
jornal New York Times dedicado à fotografia e ao jornalismo visual. Nessa
altura, a fotojornalista declarava-se “emocionada” e “esmagada” pelo que tinha
acontecido, mas não se mostrou surpreendida - antes desta tragédia já tinha
fotografado outras quatro no Bangladesh em tudo semelhantes. “A história é
sempre a mesma”, dizia em declarações ao Lens. E no dia 24 de Abril a história
voltou a repetir-se, agora com uma escala ainda mais dantesca.
Na quarta-feira, as autoridades anunciaram o encerramento,
numa primeira fase, de 18 fábricas têxteis por razões de segurança. O último
balanço da tragédia de 24 de Abril dá conta de 803 mortos e desconhece-se o
número exacto de pessoas que estavam no edifício quando as suas estruturas
cederam.
No Rana Plaza, situado a cerca de 30 quilómetros da capital,
os trabalhadores já tinham denunciado a existência de fendas no edifício. No
interior estariam mais de cinco mil pessoas, mas esta é apenas uma estimativa.
Entre nove andares, funcionavam cinco fábricas, duas delas a trabalhar para
marcas de roupa como a britânica Primark e a espanhola Mango. Até agora, 12
pessoas foram detidas no âmbito da investigação à derrocada do prédio, entre
elas o proprietário, Mohammed Sohel Rana, que tentou a fuga para a Índia.
Sérgio B. Gomes
“A história é sempre a mesma” dizia Taslima Akhter. E foi.
Nota pessoal: A foto é esmagadora, real e brutal. Quem eram,
namorados, um casal recém casado, jovens pais? Não sabemos. Pouco importa, eram
entre as largas centenas que ali deixaram a vida gente que ganhava a vida,
conscientes ou não da exploração a que eram sujeitos e do risco de vida que
pesava sobre eles. Local construído para a habitação transformado numa
gigantesca fábrica onde trabalhavam mais de 1.000 pessoas!
No passado, a permanência era o ideal. Quer se tratasse de
fazer, à mão, um par de botas, quer de construir uma catedral, todas as
energias criadoras e produtos do homem se aplicavam no ojetivo de aumentar ao
máximo a durabilidade do que faziam. O homem construía para durar. Não tinha,
aliás, outro remédio, pois, em virtude de a sociedade que o cercava ser
relativamente imutável, cada objecto tinha funções claramente definidas e a
lógica económica impunha a política da permanência. Embora tivesse de ser
consertadas de vez em quando, umas botas que custavam o equivalente a 10 euros
e duravam 10 anos eram menos dispendiosas do que outras que custavam 2 euros e
só duravam um ano.
Hoje, tudo mudou e não vou estar aqui a delirar no como era
e no como é. Mudou e ponto final. Mas a que preço? Eu sei que vocês sabem o que
eu quero dizer. A exploração é a palavra de ordem. O enriquecer a qualquer
preço. O fugir à responsabilidade como um dos donos daquela fábrica!
Sabem, eu acho que o nosso mundo está desta maneira: "E
os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que é boa a situação desta cidade,
como o meu senhor vê; porém as águas são más, e a terra é estéril.” (II Reis 2:
19)
E não digo mais nada. Quem tem ouvidos ouça!
José Carlos Costa
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