9 de maio de 2013

Um abraço de morte “assustadoramente belo”


A fotógrafa Taslima Akhter revelou um abraço de um homem e de uma mulher congelado pela derrocada do edifício Rana Plaza, no Bangladesh. A imagem ameaça tornar-se um ícone da luta contra as condições de trabalho no sector têxtil naquele país.
A fotógrafa desconhece a identidade deste casal Taslima Akhter .
Taslima Akhter não sabe quem são nem que tipo de relação mantinham. Tentou “desesperadamente” encontrar respostas para muitas perguntas que surgiram a jorros depois de horas e horas a fotografar corpos aprisionados nos escombros do edifício Rana Plaza, Daca, Bangladesh. Tentou “alguma pista” que fosse, mas nada. Para já, o homem e a mulher que se abraçam no momento fatal do colapso de há duas semanas que causou mais de 800 mortos continuam anónimos. E perseguem o pensamento da fotógrafa que captou esta imagem que agora se afirma como uma das mais simbólicas da tragédia.
 
Os acidentes ligados às condições precárias de trabalho e exploração humana não são novidade para Taslima Akhter (Daca, 1974). Em Novembro do ano passado, fotografou um incêndio numa fábrica de confecções que causou mais de 100 mortos, trabalho que chamou a atenção do Lens, o blogue do jornal New York Times dedicado à fotografia e ao jornalismo visual. Nessa altura, a fotojornalista declarava-se “emocionada” e “esmagada” pelo que tinha acontecido, mas não se mostrou surpreendida - antes desta tragédia já tinha fotografado outras quatro no Bangladesh em tudo semelhantes. “A história é sempre a mesma”, dizia em declarações ao Lens. E no dia 24 de Abril a história voltou a repetir-se, agora com uma escala ainda mais dantesca.
Na quarta-feira, as autoridades anunciaram o encerramento, numa primeira fase, de 18 fábricas têxteis por razões de segurança. O último balanço da tragédia de 24 de Abril dá conta de 803 mortos e desconhece-se o número exacto de pessoas que estavam no edifício quando as suas estruturas cederam.
No Rana Plaza, situado a cerca de 30 quilómetros da capital, os trabalhadores já tinham denunciado a existência de fendas no edifício. No interior estariam mais de cinco mil pessoas, mas esta é apenas uma estimativa. Entre nove andares, funcionavam cinco fábricas, duas delas a trabalhar para marcas de roupa como a britânica Primark e a espanhola Mango. Até agora, 12 pessoas foram detidas no âmbito da investigação à derrocada do prédio, entre elas o proprietário, Mohammed Sohel Rana, que tentou a fuga para a Índia.
Sérgio B. Gomes
“A história é sempre a mesma” dizia Taslima Akhter. E foi.
Nota pessoal: A foto é esmagadora, real e brutal. Quem eram, namorados, um casal recém casado, jovens pais? Não sabemos. Pouco importa, eram entre as largas centenas que ali deixaram a vida gente que ganhava a vida, conscientes ou não da exploração a que eram sujeitos e do risco de vida que pesava sobre eles. Local construído para a habitação transformado numa gigantesca fábrica onde trabalhavam mais de 1.000 pessoas!
No passado, a permanência era o ideal. Quer se tratasse de fazer, à mão, um par de botas, quer de construir uma catedral, todas as energias criadoras e produtos do homem se aplicavam no ojetivo de aumentar ao máximo a durabilidade do que faziam. O homem construía para durar. Não tinha, aliás, outro remédio, pois, em virtude de a sociedade que o cercava ser relativamente imutável, cada objecto tinha funções claramente definidas e a lógica económica impunha a política da permanência. Embora tivesse de ser consertadas de vez em quando, umas botas que custavam o equivalente a 10 euros e duravam 10 anos eram menos dispendiosas do que outras que custavam 2 euros e só duravam um ano.
Hoje, tudo mudou e não vou estar aqui a delirar no como era e no como é. Mudou e ponto final. Mas a que preço? Eu sei que vocês sabem o que eu quero dizer. A exploração é a palavra de ordem. O enriquecer a qualquer preço. O fugir à responsabilidade como um dos donos daquela fábrica!
Sabem, eu acho que o nosso mundo está desta maneira: "E os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que é boa a situação desta cidade, como o meu senhor vê; porém as águas são más, e a terra é estéril.” (II Reis 2: 19)
E não digo mais nada. Quem tem ouvidos ouça!
José Carlos Costa

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