15 de março de 2011

NÃO SOMOS SENHORES DO MUNDO

Sempre que acontece uma tragédia natural como a que sucedeu agora no Japao, percebemos como é disparatada a sensação de omnipotência que alimentamos durante 365 dias por ano, ano após ano.
Perante uma onda gigante, os barcos, as pontes, os prédios mais resistentes parecem bonecos de um jogo de crianças, arrastados e enrolados num mar de lama, e as pessoas, as pessoas são tão infinitamente pequenas que nem sequer as vemos. De um segundo para o outro, fica claro que não somos os senhores do mundo.
É paradoxal, porque para conseguirmos sobreviver precisamos de sentir que temos controlo sobre a nossa vida. Saber com o que podemos contar em termos de emprego, família, relações amorosas; acreditar que a casa onde moramos é sólida, que a água vai correr na torneira e o candeeiro se acenderá mal toquemos no interruptor. No mundo ocidental vivemos numa sociedade tão segura, sustentada por uma tecnologia cada vez mais sofisticada e previsível, que é fácil a ilusão de que, de facto, temos as rédeas na mão. A crise económica e um novo modelo de trabalho precário abalaram muito desse conforto, deixando-nos enraivecidos e confusos, mas, apesar de tudo, seguros de que dominamos as regras do jogo. O pior é que para manter essa falsa ilusão de poder às vezes somos infantis ou cobardes, procurando razões ´humanas´para o desastre, e portanto aparentemente controláveis, que nos permitam manter a crença de que o mundo é um lugar seguro e previsível. Que uma onda nunca nos levará no sono, que os nossos filhos não irão desaparecer entre escombros. E, sobretudo, que ainda temos tempo para emendar os erros do passado e construir um futuro melhor. Mas durante aquela janela de oportunidade em que ainda temos a cruel consciência de que ´não mandamos nada´, podíamos dar-nos a oportunidade de pensar que não há nenhuma outra maneira de viver, senão a de viver cada ida plenamente. E a de dar graças (a Deus) por cada manhã em que o sol volta a nascer. Como se nada fosse garantido. Porque na verdade não é.
Drª Isabel Stilwell
Destak

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