9 de março de 2011

ESTA CRISE CAMINHA PELAS RUAS DO MUNDO

“Os próximos meses serão difíceis”, adiantou o especialista das Nações Unidas, Olivier de Schutter. O investigador fez esta “profecia”, ao apresentar, em Genebra, um relatório ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU), sobre o direito à alimentação. A crise líbia provocará a subida do preço do petróleo, que terá um impacto inflacionista no custo dos alimentos. O especialista explicou que a crise alimentar não depende só de factores agrícolas, mas também de factores “ambientais e de pobreza”. A solução do problema não passa unicamente por aumentar a produção agro-industrial.
Se vocês querem saber o que é crise, não custa nada, escrevem na barra do Google a palavra crise e a lista é infindável. Não custa mesmo nada. Foi assim que eu fiz para colocar o texto acima. Não custou nada, mas, para ser sincero nem o li todo, para quê? A palavra crise pouco diz a quem vive em crise desde que vive. Há dias passava eu entre um grupo de pessoas que falavam no passeio e pude ouvir “quem é muito pobre quer lá saber da crise!” e ainda me pude aperceber – a gente gosta de ouvir estas coisas – que outra pessoa dizia: “E se, com essa crise, acabam como o rendimento social de inserção (RSI)? De quê que esta gente vai viver?”.
Gosto de entrar nas velhas mercearias do Porto ou de qualquer outro lugar, quando era miúdo era aí que nos abastecíamos, às vezes não tínhamos dinheiro para pagar mas a Dª Maria Caldeira fiava, tinha um livro cheio de nomes. Eu sentia alguma vergonha quando tinha que dizer: “fiado”, sempre que via a lista ficava mais tranquilo. Afinal não era o único! Ao fim do mês lá ia eu todo orgulhoso com uma nota de 20 escudos pagar e ainda trazia troco e pensava “toma lá!” como dizia entrei numa dessas mercearias e perguntei se ainda fiavam. O merceeiro, depois de lhe ter explicado a razão da minha curiosidade, trouxe lá de um canto um velho e surrado livro, dizendo: “Não arranjam trabalho” e logo acrescentou: “outros não querem trabalhar”, abriu o livro e pude ver uma quantidade de nomes, alguns via-se que há muito tempo que ali estavam, outros…muitos eram mais recentes. O homem olhou para mim e disse: “Tenho aqui clientes que antes eram dos clientes mais ricos que entravam na loja, eram eles que me davam o lucro para eu fiar aos pobres, agora, já venderam tudo, até o ouro que herdaram! O senhor nem imagina a crise que aí está!
Saí triste, pela crise mas mais triste pelas pessoas. Que sentirão quando tem que ir a uma Associação pedir alguns géneros alimentares? Que sentirão aqueles que querem um trabalho e o não encontram? Que sentirão os idosos que recebem uma pensão mínima que mal dá para os medicamentos, renda da casa, luz e água?
As notícias sobre a crise chegam pelo televisor incrustado na parede ou pela Internet. E é como se ali estivesse a professora do Charlie Brown a pronunciar frases incompreensíveis. Ou a Dª Maria Caldeira a murmurar umas meias palavras que nunca lhes compreendi o sentido.
O problema é que esta CRISE parece doida, caminha por todas as ruas do mundo e não pára!

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