20 de fevereiro de 2011

PARA COMPREENDER O TSUNAMI DOS PAÍSES ÀRABES

Esta foto não é de Fatimah.
Fatimah khdum não é viúva nem analfabeta nem pobre. É casada, tem dois filhos e é licenciada. Foi na universidades, em 1995, que decidiu fundar uma organização não-governamental, coisa quase desconhecida no seu país, mais para mais na Bassorá xiita e conservadora do Sul do Iraque. Teve de esperar – Saddam Hussein considerava que qualquer organização era política e punha em causa o regime. Desde 2003, Fatimah ocupa-se das viúvas, dos analfabetos e dos pobres. A sua Iraqui Al-Firdaus (Paraíso) Society já ensinou milhares a ler. Agora, a prioridade é um programa para ajudar viúvas a criar o próprio emprego, em colaboração com a Cruz Vermelha. Há milhões de viúvas a criar o próprio emprego, em colaboração com a Cruz Vermelha. Há milhões de viúvas no Iraque – ninguém sabe ao certo quantas – e a Cruz Vermelha concluiu em 2009 que só 10 por cento recebe pensão de viuvez.
Fatimah engana: veste abaya (túnica) e hijab (véu) negros, tem uma cara redonda e lábios bem desenhados. Já foi ameaçada de morte muitas vezes e então, para passar despercebida, deixa-se guiar pelas ruas de Bassorá. Ela no banco de trás do carro, ao volante um homem.
Mas na ONG, a maioria dos membros da direcção são mulheres. Fatimah é uma daquelas pessoas que percebe instintivamente o que faz falta em redor e encontra maneira de o fazer. Com um sorriso nos lábios e um passo determinado. No bairro de Hayaniyah, onde vive a viúva Entidar, a presença de um fotógrafo incomoda. “As milícias não gostam que as mulheres se deixem fotografar”, dizem. À chegada, Fatimah deixa-se fotografar na rua. À saída da cada de Entidar, 24 anos e três filhos, viúva desde 2003, hoje vendedora de roupa de criança e loiça, Fatimah encontra solução para um passeio mais discreto até ao carro: pega na máquina que o fotógrafo tenta guardar e esconde-a debaixo da abaya, a sorrir.

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