3 de outubro de 2010

O QUE OS CATÓLICOS MAIS DETESTAM: O CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II

Se a sociedade civil sentiu os primeiros movimentos telúricos em 1968, a Igreja entrou no clima de revisão pelo menos 6 anos antes, com o Concílio Ecuménico Vaticano II, iniciado em 1962 e encerrado em 1965. E com a renovação (compreensível e, em certos aspectos, aceitável e necessária) surgiram os primeiros sinais do terramoto que estava explodindo.

Alguém, com muito mais autoridade do que eu, já denunciara as modificações tentadas e feitas para mudar a rota da Igreja: uma visão teológica diferente de Deus, de Jesus Cristo, da Igreja e do homem, uma atitude pastoral diferente na relação Igreja / mundo e na relação entre a Igreja católica e as outras confissões cristãs ou entre a Igreja católica e as outras religiões, um modo diferente de conceber a disciplina.

Em Maio de 1989, o presidente da C.E.I., o Cardeal Ugo Poletti, preocupado com as consecutivas divisões no organismo clerical”. E ainda: “As preocupações referentes particularmente aos alunos dos nossos seminários e institutos religiosos, aqueles que amanhã serão os nossos novos sacerdotes, e que certamente não recebem hoje de alguns dos seus mestres um exemplo formativo, sob o perfil da teologia, da espiritualidade e do senso da Igreja”. Com o que sessenta e três especialistas em ciências eclesiásticas escreveram sobre a Igreja italiana e as “profundas alterações no conteúdo da fé católica”

Pergunto: se os bispos italianos não se limitassem somente a algumas lamentações sem efeito, a choramingas sem consequências, se tivessem tomado a decisão corajosa e dolorosa, no entanto, o terramoto agora permanente do qual a Igreja é vítima há 40 anos, foi veiculado nas novas gerações de padres mal formados nos seminários: a infecção que estes contraíram nos anos da sua formação (ou deformação!), transmitiram-na, depois, nas suas paróquias., torna-se necessária, desinfectar os seminários. Se tivéssemos tido essa coragem, teriam saído novos seminaristas em plena sintonia com a doutrina, com as directivas e com as necessidades da Igreja?

Hoje muitos bispos não governam mais a Igreja: diante de certos comportamentos gravíssimos de alguns padres, limitam-se a algumas amargas constatações e a piedosos conselhos, e nada mais. Parece que se envergonham do poder do governo, como se fosse um sinal de dureza do coração. Não governam por temer os contra-golpes que certamente receberiam de uma base (e estou falando de sacerdotes) agora já anárquica e ingovernável. Governar significa fazer Leis, obrigar a respeitá-las e punir quem as viola.

Jesus fundou a sua Igreja sobre três “pernas”. O poder de ensinar, o poder de santificar e o poder de governar. Tentar deixar a Igreja em pé só sobre duas pernas, sem o poder de governo, é pura e danosa ilusão. E a anarquia presente hoje na Igreja o demonstra amplamente

Quando até sacerdotes favoráveis ao aborto (e portanto assassinos) ficam impunes, qualquer outro rebelde sabe que terá garantida a impunidade. Se um padre cuspir no rosto de Cristo com heresias e revoltas sistemáticas, algum bispo está imediatamente pronto a invocar a caridade, a paciência, a necessária compreensão em relação a um irmão que se engana, a capacidade de saber aguardar um seu arrependimento... Se fosse preciso, por que renunciar a chamar a atenção também dos bispos? É S. Paulo que nos ensina a fazê-lo, criticando nada menos que o apóstolo Pedro, chefe da Igreja, e primeiro Papa, “de simulação, de hipocrisia, de comportamento não reto conforme a verdade do Evangelho” e o corrige “na presença de todos” (Gal 2, 11-14).
É o caso de meditar atentamente sobre quanto escreveu João-Paulo II falando de si mesmo: “Ao papel de Pastor faz parte também a advertência. Acho que, neste aspecto, talvez fiz muito pouco...Talvez devo reprovar-me por não ter procurado suficientemente dar ordens. Até certo ponto, isto deriva do meu temperamento. Se o bispo diz: “ Aqui quem manda sou eu”, ou então, “ Eu estou aqui para servir” falta alguma coisa: ele deve servir governando e governar servindo”.

A crítica é um bem quando nasce do amor à Igreja e da vontade de melhorar os nossos Pastores. E quando se critica a sua actuação não é baseado em nossos critérios, mas nos critérios de Jesus Cristo. Se um bispo não remove um padre pró-aborto (ou herege), os outros padres e todos os fiéis, embora sofrendo, não podem fazer nada. Este pecado de omissão permitiu aos lobos de permanecer imperturbáveis no meio do rebanho e prejudicar as ovelhas indefesas.

Estou consciente de que quem apresenta qualquer objecção em relação ao Concílio é imediatamente atacado como rebelde à Igreja. Mas, sem dúvida, é evidente que algumas coisas pouco claras ocorreram neste Concílio Ecuménico Vaticano II. O Papa Paulo VI teve a honestidade de reconhecer a espantosa tempestade em que a Igreja navega: “Em muitos sectores, o Concílio não nos deu até agora a tranquilidade, mas ao contrário provocou inquietações e problemas não úteis ao restabelecimento do Reino de Deus na Igreja e nas almas [...] Grande parte dos males não investem contra a Igreja do lado de fora, mas a aflige, a enfraquece a corrói por dentro”.

As dimensões do estrago denunciado por Montini quando diz: “ A fumaça de Satanás entrou no templo de Deus... Esperava-se que depois do Concílio viria um dia de sol para a história da Igreja. Mas, pelo contrário, chegou um dia nublado, com tempestades e trevas”

Para completar, o padre holandês Edward Schillebeeckx, afirmou sem hesitações: “No Concílio, nós usamos palavras equívocas e não soubemos ao que depois nos teríamos que ajustar”.

E João Paulo II se alia à denúncia ao lamentar: “É preciso admitir realisticamente e com dor que grande parte dos cristãos de hoje se sentem perdidos, confusos, perplexos e até desiludidos, se se difundiram fortemente ideias contrárias à verdade revelada e sempre ensinadas; se se propagaram verdades e até heresias no campo dogmático e moral, criando dúvidas, confusões, rebeliões; prejudicou-se também a liturgia. Imersos no relativismo intelectual, moral e, portanto, nos permissivíssimos, os cristãos são tentados pelo ateísmo, pelo agnosticismo, pelo iluminismo vagamente moralístico, por um cristianismo sociológico, sem dogmas e sem moral objectiva”

São responsáveis aqueles teólogos que, nas faculdades universitárias, até pontifícias, e nos seminários, há anos ensinam verdadeiras e próprias heresias ou deixaram no silêncio verdades incómodas (inferno, purgatório, mandamentos, castidade, penitência, indulgências...). São responsáveis aqueles pastores de alma que, na catequese e na pregação, não levam em conta as normas da Igreja no campo litúrgico e disciplinar. E responsáveis são também aqueles leigos que se conformaram com as bobagens de certos Pastores sem protestar. É o mesmo Bento XVI que nos exorta: “É tempo de reencontrar a coragem do anticonformismo, a capacidade de se opor e de denunciar muitas tendências da cultura que nos circunda. Renunciando a certa eufórica solidariedade pós-conciliar”.

Em poucas palavras, o Pontífice reinante, no encerramento do Ano Sacerdotal, afirmou. “ a Igreja usa o bastão contra os sacerdotes indignos”. Esperemos que esta sábia advertência não caia no vazio.
Texto baseado em Irene Bertoglio - "O Concílio e o terramoto na Igreja"

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