Adão e Eva não foram os «pais» da Humanidade e o Pecado Original não existiu. Nem tão-pouco Deus exigiu a morte do seu filho para expiar a culpa do primeiro Homem. A negação de tantas «certezas» bíblicas é defendida pelo teólogo Armindo Vaz, numa tese que coloca em causa a doutrina oficial da Igreja Católica.
A memória da crucificação e morte de Jesus é hoje, Sexta-Feira Santa, ritualizada mais uma vez em todo o mundo por mais de dois mil milhões de cristãos, num cerimonial de compungida homenagem pelo sacrifício de expiação do pecado de toda a Humanidade, voluntariamente assumido pelo filho de Deus. Um pecado suportado desde o início dos tempos por culpa de Adão e de Eva, que aceitaram o convite de uma serpente para ascenderem à condição de deuses. A esta breve Idade de Ouro do primeiro casal humano sucedeu-se o castigo divino, carregado de dor, sofrimento e morte, transmitido como herança a cada um dos futuros viventes.
É nesta trágica narrativa do Génesis - primeiro livro da Bíblia, no qual se relata a criação do mundo -, que assenta a doutrina do Pecado Original. O seu arquitecto foi o controverso Santo Agostinho, um professor de retórica nascido em Tagaste (Argélia), que se notabilizara como arrebatado defensor dos ideais estóicos e maniqueístas. Mas, após uma vida dissoluta que o deixava amargurado na «lama da concupiscência», arrastando-o «para um abismo de paixões e vícios» - conforme reconheceu nas suas «Confissões», primeiro livro autobiográfico da literatura cristã -, aceitou o baptismo durante a celebração da vigília pascal, na noite de 24 de Abril de 387, com 33 anos de idade.
Mas Santo Agostinho, futuro bispo de Hipona, mal foi admitido no seio da Igreja de Roma iniciou de imediato a redacção do seu «Diálogo Sobre o Livre Arbítrio», no qual faz ressaltar as dúvidas que lhe haviam tomado a mente sobre a origem do mal. Não tardou a associar definitivamente a queda dos «primeiros pais», Adão e Eva, a uma transgressão de ordem sexual. E deste raciocínio até à vulgarização de que o pecado acompanha qualquer acasalamento humano, foi um passo. Ainda hoje, o Catecismo da Igreja Católica reconhece que «o pecado de Adão se tornou pecado de todos os seus descendentes», classificando-o como uma «inclinação para o mal, que se chama concupiscência», a mesma expressão utilizada por Agostinho.
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