“É algo sombria esta Semana Santa, que nos toca viver. Num cenário de crise económica, a exigir sacrifício da parte de todos. Com a divulgação obsessiva dos escândalos de abuso sexual de menores no seio da Igreja, que põem em causa a sua credibilidade. O próprio Papa, corajoso e rigoroso na análise desses escândalos, é alvo de ataques.
Ora, a mensagem da Páscoa da Ressurreição vem mesmo a propósito para esta situação, incutindo esperança e coragem, para enfrentar as dificuldades da vida, com a certeza da vitória final. Em Cristo Ressuscitado já vencemos todos os obstáculos, que impedem uma vida com abundância, como prometeu a quem seguir fielmente o Seu caminho, que é de Paixão e Morte, como «passagem» para a Ressurreição, isto é, para a plenitude da vida e da felicidade.
1. Na capela do Convento de S. Gonçalo em Angra, venera-se um Crucifixo do século XVI, que tem o nome de «Divino Imperador». O Crucificado de braços abertos empunha o ceptro e tem na cabeça a coroa do Espírito Santo, as tradicionais insígnias das festas populares em honra do Divino Espírito Santo, que se realizam nos Açores, apenas inicia o Tempo Pascal.
O Crucifixo do «Divino Imperador» é realmente um ícone extraordinariamente expressivo do que significa e implica o Mistério Pascal de Cristo, na sua dupla dimensão de Paixão-Morte e Ressurreição-Ascensão-Pentecostes. A Paixão e Morte são «passagem» - Páscoa – para a Ressurreição da libertação total e definitiva. Pela efusão do Espírito Santo, que Jesus prometeu enviar e envia, qual Paráclito, que vem em nossa ajuda.
Pela Ressurreição, Jesus passa a ter um novo tipo de presença, no meio dos Seus: uma presença «espiritual» - invisível, mas real – precisamente porque se realiza, através do Espírito Santo, o Amor em Pessoa, que torna possível a verdadeira fraternidade.
2. Por isso, a Páscoa da Ressurreição é a festa da esperança. Em Cristo Ressuscitado já vencemos o mal e a raiz de todos os males que é o pecado. Aqui está o fundamento da esperança, que nos compromete. Certos de que, seguindo os «passos» de Jesus, também nós alcançaremos a vitória final da vida.
A vida humana, com todas as suas lutas e crises, tem, pois, uma meta, um rumo, um sentido. Não só no Além. Também hoje, aqui e agora. O futuro da humanidade é o «Império do Espírito Santo». Que não se constrói sem sacrifício, sem luta.
Os tempos, que se avizinham, vão ser são difíceis e exigentes. Não se sabe se, depois desta crise, surgirá um novo modelo de desenvolvimento, ou se, com pequenos ajustes, tudo voltará como antes. Uma coisa é certa, não poderemos continuar a viver acima das nossas possibilidades. Por isso, chegou a hora de alguns acertos na nossa vida. Mesmo que custe, é possível alcançar a meta de uma vida equilibrada e saudável; é possível uma sociedade mais justa e fraterna.
3. Há semanas, estive um Bruxelas, integrado numa delegação da Conferência Episcopal Portuguesa. Tive a oportunidade de verificar como se está a forjar uma nova Europa, sem fronteiras, nem discriminações. Neste Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social e no Ano dedicado aos Açores como Região Europeia, queremos encher-nos de coragem e de esperança, para ajudarmos a construir uma Europa desenvolvida, ancorada nos valores, que estão na sua origem.
A preponderância da legislação europeia e a abolição de fronteiras reclamam a afirmação das especificidades locais. Se os Estados já mandam pouco e, cada vez mandarão menos, quem manda então? São os cidadãos. Isso exige a revitalização da sociedade civil, que não se esgota no empenhamento político-partidário. Há tantas outras formas de intervir na sociedade e de contribuir para o bem comum.
Mãos à obra! Cristo ressuscitou! É possível ultrapassar a presente crise. Se nos dermos as mãos e arregaçarmos as mangas, para enfrentarmos o que der e vier. Daqui a dias vêm as festas do Espírito Santo, que exprimem, de forma tão significativa, a utopia da «Civilização do Amor». Que ainda não existe, de forma completa, em nenhum lugar, mas que é possível alcançar, na medida em que vivermos, cada vez mais e melhor, sob o «Império do Espírito Santo», que é o Reino de justiça, amor e paz.
Logo a seguir, teremos a visita do Papa, que vem «confirmar os irmãos na fé». Com a lucidez da sua doutrina. E a coerência da sua vida. E, sobretudo, com a missão específica de supremo pastor da Igreja, que «preside na caridade». Na sua recente Encíclica, Bento XVI explica-nos que o caminho da fraternidade universal é a «Caridade na Verdade», que tem a sua fonte em Deus. Aqui estão a nossa força e a capacidade, para construir um mundo mais humano e fraterno.
Feliz Páscoa, na alegria e esperança de Cristo Ressuscitado, possibilidade divina das impossibilidades humanas!”.
Bispo de Angra e de Ilhas dos Açores
António Sousa Braga
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