Alguns padres pediram dispensa do exercício ministerial para poderem contrair casamento católico e continuar ligados à Igreja, enquanto outros optaram pelo casamento civil e por seguir uma vida leiga.
No entanto, "uma vez sacerdotes, nunca deixam de o ser", disse hoje à agência Lusa o presidente da Fraternitas Movimento de Padres Dispensados do Exercício Ministerial, José Serafim Sousa, para quem a imposição de celibato e a exclusão das mulheres do sacerdócio já "não fazem sentido".
A actualidade do tema levou a Fraternitas e o Movimento Nós Somos Igreja a promover um debate hoje, em Lisboa, para confrontar experiências de Portugal e do Brasil, onde existem 6000 a 7000 padres casados, segundo a mesma fonte.
Assim, estará em Lisboa, no Centro Nacional de Cultura, um casal brasileiro constituído por um padre português, que decidiu ir viver para o Brasil e dedicar-se ao ensino universitário, e uma teóloga.
"Nós não exercemos, estamos dispensados e isso parece que é uma coisa livre, mas não é. É imposta. Os bispos impõem-nos que estejamos dispensados", afirmou Serafim Sousa.
Nos últimos anos, referiu, pelo menos 50 a 100 padres terão pedido dispensa das ordens em Portugal.
Serafim Sousa concorda "cem por cento" com o sacerdócio no feminino apesar de, como diz, ser "filho de uma sociedade em que é tudo masculino" quando se fala de padres e sacerdócio.
Porém, nas igrejas, na assistência marcam presença essencialmente as mulheres: "Mais de 75 por cento das pessoas que hoje frequentam a Igreja e fazem todo o tipo de serviços, desde catequese, responsáveis de Crisma, de preparação para o matrimónio a
administração" são mulheres, observou.
Serafim Sousa indicou exemplos de outras igrejas: "Os protestantes já abriram o grau de presbiterado para as mulheres e os anglicanos também, só nós, na Igreja Católica, é que continuamos ligados a uma tradição obsoleta, a dizer que não e não".
A Fraternitas defende o sacerdócio para mulheres e padres casados, até porque, quando há uma boa relação com as paróquias, estes são chamados a desempenhar várias tarefas.
Podem dar catequese e a comunhão, ajudar em casamentos, baptizados e funerais, mas estás-lhes vedada a celebração eucarística.
"Isto é um contra-senso, mas a Igreja vive nisto, nesta ambiguidade, prefere viver assim e nós sentimos que isto é uma ferida que nos mágoa", lamentou.
O celibato actualmente, "com todas as falhas e solicitações, não faz sentido nenhum", acrescentou, defendendo que ainda há muitos jovens dedicados à Igreja para os quais o impedimento de contrair matrimónio e constituir família "é um obstáculo".
"Penso que se puserem o celibato facultativo resolvem os problemas, não todos, porque a vida de padre não é fácil, mas aquilo é uma missão. Ser padre não é uma profissão. Há vocações decididas a entregar-se a este trabalho de levar a luz de Cristo ao mundo, mas o celibato é um obstáculo, em muitas circunstâncias, a que tenhamos padres jovens", sustentou.
A Fraternitas é constituída por padres dispensados do exercício do Ministério, casados ou não, e suas esposas e viúvas.
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