3 de abril de 2010

COMPARAÇÃO COM ANTISSIMITISMO CONSIDERADA INOPORTUNA

A polémica rebentou ao final do dia de ontem, quando começaram a chegar as primeiras reacções à comunicação do pregador do Vaticano frei Raniero Cantalamessa diante de Bento XVI: através de uma carta escrita por um amigo judeu, comparou os ataques à igreja e ao papa Bento XVI, na sequência de suspeitas e acusações de abusos sexuais praticados por padres, à perseguição vivida pelos judeus. Vaticano, associações de vítimas e comunidade judaica rejeitaram já a comparação com o antissemitismo, que consideram inadequada.
O porta-voz do Vaticano Federico Lombardi sublinhou que se trata das opiniões pessoais de Cantalamessa, pregador da casa pontifícia desde 1980, e que não representam uma declaração oficial. "Comparar os ataques a Bento XVI pelos escândalos de abusos sexuais de crianças por sacerdotes ao antissemitismo não é a linha mantida pela Santa Sé", disse hoje na rádio Vaticano. O porta-voz disse que o pregador da casa pontifícia apenas quis tornar pública a solidariedade para com o papa manifestada por um judeu dada "a experiência de dor sofrida por eles."
Ainda assim, o facto de o frei dominicano ser o único padre autorizado a pregar para o papa trouxe outra repercussão às declarações. O secretário-geral do Conselho central judaico alemão Stephan Kramer considerou as palavras de Cantalamessa " impertinência e um insulto face às vítimas dos abusos sexuais e às vítimas do Holocausto."
Para este responsável, o Vaticano está a "recorrer aos métodos habituais, que utiliza há décadas, para abafar e esconder as histórias que mancham" a Igreja Católica.
Também em Roma, o rabino-chefe Riccardo di Segni reagiu com rapidez: "Com um mínimo de ironia, vou dizer que hoje é Sexta-Feira Santa, quando se reza para que o Senhor ilumine os nossos corações para que reconheçamos Jesus. Nós também rezamos para que o Senhor ilumine o deles."
Dos Estados Unidos chegou já a reacção de um grupo de vítimas de abusos de padres. O porta-voz David Clohessy considerou a comparação insensível. "Homens que deliberadamente ocultam crimes sexuais contra crianças não são vítimas. E combinar o escrutínio público a uma terrível violência é muito errado."
Fonte: http://www.ionline.pt/conteudo/53758-pressao-igreja-comparacao-com-antissemitismo-e-inoportuna

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