Será mais um acto penitencial público e, ao mesmo tempo, uma reprimenda aos bispos católicos - desta vez, aos da Irlanda. O Papa Bento XVI convocou para dois dias de trabalho no Vaticano, hoje e amanhã, o episcopado irlandês, com um único ponto na agenda: os casos de pedofilia que abalaram a Igreja Católica naquele país, durante décadas.
A preocupação maior do Papa é voltar a dar confiança aos católicos irlandeses. "Infelizmente, por diversas ocasiões", vários membros da Igreja "violaram os direitos das crianças", em contradição com o seu compromisso, lamentou Bento XVI, na semana passada, citado pela Reuters. "Um comportamento que a Igreja não deixa e não deixará de deplorar e de condenar", acrescentou, de acordo com a AFP.
O Papa Ratzinger falava numa audiência aos participantes na assembleia plenária do Conselho Pontifício para a Família, recordando os 20 anos da Convenção dos Direitos da Criança. Mas, em pano de fundo, ressoavam os escândalos de pedofilia que atingiram países como a Irlanda, Canadá, Austrália e Estados Unidos (neste país, sete dioceses entraram em bancarrota com os pagamentos de indemnizações às vítimas; só a diocese de Los Angeles pagou 600 milhões de dólares a 500 vítimas de abusos).
A referência surgia pouco depois de, na Irlanda, os bispos católicos se terem encontrado com vítimas de pedofilia do clero, em Dublin.
Um primeiro encontro com quatro associações de vítimas - Right to Peace, Alliance Support Group, Irish Soca e Right of Place - tivera lugar a 11 de Dezembro. "Falámos das preocupações contínuas das vítimas", que hoje serão apresentadsa ao Papa, explicou ao L"Osservatore Romano o bispo de Dromore, John McAreavey.
Os casos vieram a público, em toda a sua extensão, em Março do ano passado, depois de 20 anos de várias denúncias. Só a diocese de Dublin revelou que, desde 1940, 102 padres (entre 2800) tinham sido acusados de abusar sexualmente de menores, resumiu o La Croix. Os 105 processos (dos quais 40 ainda em curso) intentados contra 32 padres da diocese deram origem a oito condenações.
Em Novembro, foi a vez de um inquérito governamental revelar que, em 30 anos (1975-2005), 21 padres tinham abusado de uma centena de pessoas. Pior, a investigação concluía que os responsáveis da diocese da capital tinham encoberto a pedofilia de vários padres durante décadas.
Foi ao receber o cardeal Sean Brady, primaz da Igreja Católica na Irlanda, que o Papa Ratzinger anunciou a reunião destes dois dias no Vaticano com os 30 bispos irlandeses.
Nesse encontro, no início de Dezembro, Bento XVI qualificou de "crimes abomináveis" os comportamentos dos padres que conduziram à demissão de quatro bispos, acusados pela opinião pública de não terem feito o necessário para pôr ponto final nos actos de pedofilia.
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