O jesuíta egípcio Henri de Boulad, de rito melquita, de 78 anos de idade, endereçou uma carta aberta ao Papa Bento XVI, que circula na Internet. Confessa que o seu coração sangra ao ver "o abismo em que se está a precipitar a nossa Igreja".
Manifesta as suas preocupações. Em primeiro lugar, o "constante decréscimo da prática religiosa". São poucas as pessoas e quase todas da terceira idade que frequentam as igrejas na Europa.
Os seminários e os noviciados vazios, com "as vocações sacerdotais e religiosas a cair a pique".
São muitos os padres que abandonam o ministério sacerdotal e os que permanecem estão envelhecidos, ocupando-se de várias paróquias ou várias tarefas pastorais, limitando-se "a papéis de expediente e meramente administrativos".
Considera que a linguagem da Igreja é "obsoleta, anacrónica, aborrecida, repetitiva, moralizante e totalmente inadaptada à época actual". Rejeita qualquer prática acomodatícia ou demagógica porque o Evangelho é "exigente", mas defende, na linha de João Paulo II, uma "nova evangelização", capaz de "inventar uma nova linguagem que exprima a fé de modo adequado e com significado para o homem de hoje".
Defende uma "renovação em profundidade da teologia e da catequética", para que a fé não seja apenas "cerebral, abstracta e dogmática, mas chegue ao coração e ao corpo".
Sublinha que muitos cristãos "voltam-se para as religiões da Ásia, para as seitas, para a new-age, para as igrejas evangélicas e para o ocultismo", procurando noutros lados o alimento que lhes falta em casa.
Quanto ao magistério eclesial, lamenta que repita até à exaustão os temas de sempre: "matrimónio, contracepção, aborto, eutanásia, homossexualidade, casamento dos padres, divorciados que voltam a casar", mas sem resultados visíveis, pois já "não afectam as pessoas", que ficam "indiferentes". Argumenta que todos esses problemas morais e pastorais "merecem algo mais do que declarações categóricas". Carecem de "tratamento pastoral, sociológico, psicológico e humano, numa linha evangélica".
A Igreja não pode "minimizar a gravidade da situação ou refugiar-se na tradição", porque a "modernidade é irreversível". Dói-lhe que o entusiasmo do Concílio Vaticano II tenha arrefecido e se esteja a voltar ao Vaticano I e a Trento mais do que ao Vaticano III. Confia numa "reforma teológica, catequética, pastoral e espiritual".
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