3 de agosto de 2011

Secretas e Segredos

O tumulto em que se encontra o mundo dos chamados Serviços Secretos portugueses não é bom sinal. Quando os profissionais das informações que suportam a segurança do Estado são notícia, quer dizer que, seja qual for o motivo, a sua eficácia diminui. Não se trabalha sobre segredos com os projectores em cima. Afastá-los o mais depressa possível, devolver discrição ao trabalho destas instituições, é obrigatoriamente um dever imediato do governo. Doa a quem doer. É o País que perde com este folclore.
O tumulto resulta do facto de um alto dirigente ter mudado de armas e bagagens de um destes serviços para uma empresa privada e, por via disso, ter fornecido informações privilegiadas ao seu novo empregador. Não sei se o fez ou não fez. O problema é outro. É de vivermos num Estado que cultiva a irresponsabilidade e não se defende a si próprio. Cada vez que surge um caso destes, a discussão é recorrente. Mais na política do que no domínio das polícias, das forças armadas e dos serviços de informações. Mas são frequentes as transferências de
passes, como se fosse negócio de futebol, entre estas instituições decisivas na solidez do Estado e grande empresas, incluindo bancos e seguradoras. Não me revejo nessa política de transferências.
Os profissionais, sobretudo dirigentes, ligados a sectores estratégicos da Segurança do Estado necessitam de um período de luto distanciado para que possam pensar noutras carreiras profissionais. Não se pode querer tudo. Quem aceita ser ministro, director, comandante e por aí fora tem de perceber que uma das regras do jogo do poder é não prostituir o próprio sistema que o elevou a estas categorias. Não é apenas um problema de legislação. É um princípio moral. E este governo, que colocou a transparência na ordem do dia, está em condições de colocar regras sérias neste domínio. Estes homens e mulheres que trabalham nos domínios da segurança possuem um poder muito maior do que qualquer outro: o que resulta do seu próprio trabalho no domínio da concentração de informação vital para a protecção do País. Não proteger este capital que é pertença exclusiva do Estado é desrespeitar a nossa própria dignidade institucional, e quem não se respeita não se pode querer dar ao respeito.
Por:Francisco Moita Flores, Professor Universitário
Correio da Manhã

 
Fil. 4:8 "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai."

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