"Por que não aproveitaríamos a oportunidade de ficar com artigos caríssimos à borla?", perguntou um envolvido nas pilhagens (Phil Noble/Reuters)
Quem são os indivíduos que compõem a indistinta massa humana que saiu para as ruas de Londres - e de Birmingham, Manchester, Gloucester, ou Liverpool -, desafiando a polícia, roubando à descarada e destruindo tudo o que lhes apareceu à frente, num vandalismo indiscriminado e uma violência aparentemente arbitrária?
Um deles é Christopher Heart, 23 anos, pai de dois filhos, operário da construção, apanhado pela polícia com umas sapatilhas de marca Lacoste e um casaco ainda com o dispositivo de alarme preso à manga, abandonando uma loja de artigos desportivos de Hackney.
Outro é Alexis Bailey, de 31 anos, que trabalha como conselheiro de aprendizagem numa escola primária londrina. Detido em flagrante, no tribunal declarou-se culpado do furto de uma aparelhagem numa loja saqueada em Croydon na segunda-feira..
Ou Aaron Mulholland, que chorou e garantiu ao magistrado do tribunal que tinha aprendido a lição. O nadador-salvador, de 30 anos, trabalha num ginásio de Peckham e aproveitou a confusão para pilhar uma loja de telemóveis.
A polícia também agarrou um menino de 11 anos, que no tribunal de Romford (Essex) confessou calmamente pertencer ao gang que destruiu e saqueou um armazém do grupo Debenhams.
Até agora, tinha-se pintado um retrato impreciso da turba envolvida nos saques e desacatos. A generalização apontava para "jovens de classes desfavorecidas residentes em bairros sociais". Alguns seriam "elementos" já conhecidos das autoridades; outros cidadãos marginalizados, arrastados pela corrente: "Pessoas habitualmente discriminadas e que de repente se vêem poderosas", explicava o criminólogo John Pitts, acrescentando que essa sensação "pode ser tão alucinante como uma droga".
Mas à medida que as centenas de pessoas detidas nas pilhagens e confrontos vai sendo presente a tribunal, é possível ficar com uma ideia mais precisa sobre a demografia dos criminosos. Não há mais rapazes do que raparigas, nem há predominância de minorias, étnicas ou religiosas. Não são todos desempregados ou estudantes sem perspectivas de futuro. E a haver uma "inspiração" para os saques, é a do consumismo desenfreado.
O que têm em comum o recruta do exército, o designer gráfico, o camionista, o estudante universitário, apanhados juntos a pilhar lojas de Londres; o que os leva a roubar sapatilhas e óculos de sol, ecrãs de plasma, telemóveis, roupa de marca, bebidas alcoólicas e até bilhetes da lotaria?
Em Manchester, um repórter da BBC perguntou porquê a uns jovens que estavam a pilhar lojas na terça-feira. "Porque podemos. Porque não nos acontece nada" foi a resposta de um. "Por que não aproveitaríamos a oportunidade de ficar com artigos caríssimos à borla?", replicou o outro. Depois, os dois disseram que era por causa do Governo. "O Governo não manda nada. Se mandasse, nada disto estava a acontecer. Quero lá saber da polícia, por mim vou continuar a roubar até ser apanhado", garantiu um deles
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