A onda de contestação que levou à queda dos Presidentes da Tunísia e do Egito continua a ter eco fora das fronteiras destes dois países e as manifestações anti-governamentais continuam a agitar Estados do mundo muçulmano.
Milhares de pessoas estão a sair à rua para contestar regimes autoritários e reivindicar reformas políticas e sociais, mas os relatos de repressão, em alguns casos com derramamento de sangue, são cada vez mais frequentes.
Principais protestos e factos ocorridos nos últimos dias e previstos para esta semana:
Argélia:
- A Coordenadora Nacional para a Mudança e Democracia (CNCD), a principal frente da oposição argelina, continua determinada em sair à rua este sábado, numa nova grande manifestação, para exigir a mudança do regime argelino.
O primeiro-ministro argelino Ahmed Ouyahia assumiu nos últimos dias o compromisso de tomar medidas necessárias para responder às reivindicações dos argelinos, bem como suspender o estado de emergência no país até ao final deste mês.
No sábado passado, várias centenas de manifestantes concentraram-se em Argel para reivindicar uma "mudança de sistema", mas a ação de protesto foi impedida pela polícia. Cerca de 400 pessoas foram detidas.
Bahrein:
- Várias centenas de pessoas assistiram hoje ao funeral de uma das vítimas da repressão do movimento reformista. Durante as cerimónias fúnebres, as pessoas gritaram frases contra a monarquia sunita que governa o país.
Pelo menos três pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas nos confrontos, que ficaram marcados pela presença de tanques do exército.
Os protestos iniciaram-se esta semana em prol de reformas políticas, mas parece estarem a tornar-se numa tentativa dos xiitas de derrubarem a liderança sunita.
Egipto:
- Uma semana depois da renúncia do Presidente Hosni Mubarak, milhares de pessoas regressaram à praça Tahrir, o epicentro da revolta popular, para celebrar a queda do regime e manter a pressão sobre as Forças Armadas, que tomaram as rédeas do poder.
Nos últimos dias, o país tem sido afetado por greves, paralisações e concentrações, tanto no sector público como no privado. Os trabalhadores egípcios exigem aumentos salariais e melhoria das condições de trabalho.
Líbia:
- Pelo menos 14 pessoas foram mortas na quinta-feira em confrontos entre forças de segurança e manifestantes anti-regime em Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, segundo um balanço fornecido por fontes médicas locais.
A organização norte-americana Human Rights Watch afirmou hoje que pelo menos 24 pessoas morreram nos confrontos, das quais oito em Benghazi.
Os protestos na Líbia começaram na terça-feira, existindo relatos de confrontos, detenções e destruição de edifícios estatais.
Marrocos:
- Um grupo de jovens marroquinos está a convocar através da rede social Facebook uma "manifestação pacífica" para 20 de fevereiro para reclamar "uma ampla reforma política" no país magrebino.
"Apelamos a todos os marroquinos para se manifestarem em 20 de fevereiro pela dignidade do povo e por reformas democráticas", indica a "plataforma" presente na rede social, que também sugere uma reforma da Constituição, a demissão do atual Governo e a dissolução do Parlamento.
Irão:
- Milhares de pessoas concentraram-se hoje na Universidade de Teerão para exigir a morte dos líderes da oposição ao regime, antes da oração semanal e de uma grande manifestação de "ódio e ira" contra os dois opositores.
Mir Hossein Mussavi e Mehdi Karubi estão sob vigilância policial há vários dias, depois de terem convocado uma manifestação ilegal contra o regime. Duas pessoas morreram e várias ficaram feridas nesse protesto.
Iraque:
- Dois jovens morreram durante uma manifestação contra o governo regional do Curdistão iraquiano, realizada na quinta-feira.
Na mesma região, em duas cidades controladas pelas forças do Presidente Massoud Barzani, os escritórios de dissidentes foram pilhados e destruídos.
Tunísia:
- O ex-Presidente Zine El Abidine Ben Ali, 74 anos, que fugiu da Tunísia a 14 de janeiro, está internado e "em coma" num hospital em Jeddah, Arábia Saudita, depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral.
Ben Ali, que esteve no poder durante 23 anos, não resistiu a um movimento de contestação sem precedentes no país durante quase um mês.
Iémen:
- Três pessoas morreram e 19 ficaram feridas durante violentos confrontos ocorridos na quinta-feira entre manifestantes e elementos das forças de segurança em Aden, a principal cidade do sul do país.
Os manifestantes envolveram-se em confrontos com a polícia, que disparou para dispersar os milhares de pessoas que exigiam a demissão do Presidente Ali Abdallah Saleh.
Omã:
- Perto de três centenas de pessoas manifestaram-se hoje no centro de Mascate de forma pacífica, para reivindicar aumentos salariais e reformas políticas.
Este é o segundo protesto de carácter político e social realizado naquele país no espaço de um mês.
Jordânia:
- Pelo menos oito pessoas ficaram feridas durante uma manifestação que hoje reuniu várias centenas de jovens em Amã, capital da Jordânia, segundo uma fonte médica e várias testemunhas locais.
Os manifestantes, que reivindicavam reformas políticas, foram alvo de um ataque por parte de um grupo de apoiantes do Governo e alguns acabaram por sofrer ferimentos, de acordo com as mesmas fontes.
Fonte: Diário Digital / Lusa
História: Não sei bem porquê, mas há anos, para precisar desde 1990, percebi que os que se está a passar no mundo Árabe iria acontecer. Pensava por essa altura que seria por volta do ano 1994, demorou mais. Desde então fui escrevendo pequenas histórias, umas vividas diretamente outras contadas por colegas meus e que comigo trabalharam no ministério Pastoral, alguns foram meus colegas na Faculdade em Collonges –sous-Salève. Eis uma delas .
Zafaran é um adolescente, na hora da segunda prece faz as abluções – cara, cabeça, mãos, pés – com água que escorre de um bule. Está agachado no chão poeirento da parte exterior do campo, onde se aglomeram a céu aberto mais de 400 família (Zafaran, fala francês) à espera de autorização para abandonarem a terra de ninguém e entrarem por fim em Kili Faizo.
- o que vais pedir hoje a Deus, Zafaran?
- Que perdoe os meus pecados e os pecados dos meus pais, irmãos e irmãs, familiares, e de todos os muçulmanos no Norte, do Sul, do Leste, e do Oeste.
- Quais são os teus pecados, Zafaran?
- Não sei.
- O que é que gostavas de pedir a Deus, Zafaram?
- Que pergunta tão estranha.
- Qual é o teu desejo?
- Não percebo.
- Imagina que podias pedir uma coisa e que ela te era concedida: um brinquedo, um carro, uma casa.
- Não percebo.
- Não tens um desejo, Zafaran?
- O que é desejo?
De um momento para ou outro, como um vulcão, saíram todos os desejos do coração!
Sem comentários:
Enviar um comentário