Já está em curso a
reforma da Cúria?
Dizem que os superiores jesuítas ouvem longamente seus
subordinados e todos os implicados em um caso antes de tomar uma decisão. Mas
quando a tomam, é uma decisão pessoal e de sua inteira responsabilidade. Os
conselhos que Francisco tem criado no Vaticano parecem servir para cumprir de
forma estável essa função de aconselhamento. A reforma da Cúria pode caminhar
nessa direção, substituindo a Cúria executiva com amplos poderes – inclusive o
de decidir e falar contra o que queria o Papa – como teve que suportar Bento
XVI! Fonte: IHU Unisinos Comentário:
Lucia Zucchi
Bertone deve sair em setembro. Assim muda o mapa do poder no
Vaticano
Aquela que muitos esperam que a nomeação mais importante do
novo pontificado será formalizada provavelmente nos primeiros dias de setembro.
A era do cardeal Tarcisio Bertone se encerrará então como porto de uma transição
que o Papa Francisco quis que fosse indolor. Até demais, segundo os adversários
do “primeiro-ministro” vaticano.
A reportagem é de Massimo Franco, publicada no jornal
Corriere della Sera, 21-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma parte do episcopado tentou pressionar pelo afastamento
de Bertone antes. E esperava que na próxima viagem ao Brasil, para a Jornada
Mundial da Juventude, Jorge Mario Bergoglio fosse acompanhado de um novo
secretário de Estado, para que desse a impressão de uma reviravolta tangível
também em uma política externa vaticana asfixiada há anos.
Mas Francisco permitiu a Bertone esta última aparição ao seu
lado. Não tanto porque considera a sua colaboração insubstituível: a
desautorização daquele que, sob Bento XVI, era chamado maliciosamente de
“vice-papa”, para enfatizar o seu enorme poder, agora é palpável. Francisco
também teria ignorado recentemente a sua sugestão de adiar a instituição da
comissão de inquérito sobre o IOR.
Uma explicação da sucessão em câmera lenta é que o ex-arcebispo
jesuíta de Buenos Aires preferiu esperar por delicadeza com relação a Josef
Ratzinger: pôr de lado o seu primeiro colaborador soaria como uma crítica
implícita ao pontificado anterior. Mas talvez a verdadeira razão é que, nesses
primeiros meses, o papa quis entender bem não tanto se a era Bertone estava
encerrada, porque as críticas descaradas ao secretário de Estado durante as
congregações antes do conclave já o tinham mostrado como alvo e bode expiatório
de um mau humor crescente. O problema é que tipo de “primeiro-ministro”
Bergoglio tem na cabeça.
E aqui o quadro se torna mais confuso. Parece provável que
vamos rumo a um redimensionamento do cargo. A Secretaria de Estado vaticana nos
últimos anos foi o espelho de um sistema de governo que não funciona mais e
provoca uma centralização tal a ponto de obrigar o papa a se sobre-expor para
justificar e proteger o seu braço direito. Ao menos, foi isso que aconteceu
entre Bento XVI e Bertone.
A instituição de uma espécie de “Conselho da Coroa” formado
por cardeais de todo o mundo escolhidos pelo pontífice argentino prefigura, ao
invés, um método de trabalho colegiado e, ao mesmo tempo, uma redução do perfil
do secretário de Estado. Na incerteza sobre as próximas decisões de Francisco,
vazou até a hipótese de que ele quer abrir mão de um “primeiro-ministro”
vaticano: mas é improvável.
A “lista” de nomes que circulam sobre o sucessor de Bertone
leva a entender que apenas poucos conhecem as verdadeiras intenções do
pontífice, e que se irá rumo a uma figura menos volumosa, com funções não tanto
“políticas”, mas mais administrativas. Também não está claro se a quase
invisibilidade do secretário de Estado nas últimas semanas prefigura o modelo
que o papa tem em mente. Alguns dão por certo que será um diplomata e um
italiano.
“Talvez possa acontecer, mas com o clima contra o ‘partido
italiano’, eu não daria isso como certo”, admite um cardeal, confirmando que o
pós-conclave marca não apenas um enfraquecimento de Bertone, mas também uma
certa dificuldade de uma parte da Conferência Episcopal Italiana de se
sintonizar com o papa argentino. Por outro lado, os paradigmas e os equilíbrios
geopolíticos do passado desapareceram.
O progressivo mas inexorável desmantelamento dos rituais da
Cúria e a disposição de comissões papais ad hoc ao lado das atuais estruturas
financeiras vaticanas dá corpo a uma “estratégia de cercamento” que prepara o
terreno para se construir o novo modelo de governo. E enfatiza como ele não
funcionou até agora.
Demolição simbólica
É uma operação de demolição simbólica de velhos hábitos e
estruturas, que também serve para medir as resistências dos lobbies
eclesiásticos e econômicos mais enraizados: aqueles que contribuíram para levar
Bento XVI a renunciar em fevereiro passado e que ainda oscilam entre medo e
vontade de resistir para sobreviver.
Diz-se que, nas antessalas dos palácios vaticanos, enquanto
o papa recebe os seus convidados importantes, os monsenhores da Cúria brincam
diante de todos com tons agridoces sobre onde serão “exilados” nos próximos
meses. Primeiro, no dia 15 de junho, a nomeação do “prelado” do Instituto para
as Obras de Religião, Battista Ricca. Depois, a criação da comissão de
inquérito sobre o IOR; e há três dias, a do órgão chamado a controlar os custos
de todas as atividades econômicas da Santa Sé.
A escalada é vistosa, em apenas um mês. Mesmo que o
escândalo sobre os hábitos privados do Mons. Ricca está se tornando o pretexto
ao qual a velha guarda vai tentar se agarrar para contestar os métodos
solitários com os quais Bergoglio escolhe os colaboradores.
Mas dificilmente o incidente, embora irritante, irá bloquear
a revolução em curso. Toda a cúpula do IOR, do passado e do presente, é chamada
para desfilar diante da comissão de inquérito, presidida pelo cardeal Raffaele
Farina para informar sobre as atividades do Instituto: não apenas Ernst von
Freyberg, o atual presidente, mas também os antecessores Ettore Gotti Tedeschi
e Angelo Caloja. E, com eles, os ex-diretores.
As acusações da magistratura italiana contra Paolo Cipriani
e Massimo Tulli, o diretor do Instituto e o seu vice, forçados a renunciar no
dia 1º de julho, evocam zonas escuras a serem esclarecidas antes que cheguem
outros escândalos. Continua pairando a suspeita de que existem “contas de
aluguel”, oferecidas a pessoas ou empresas com grandes disponibilidades de
dinheiro para realizar operações financeiras protegidas em troca de grandes
contribuições.
A prisão, no dia 28 de junho, do Mons. Nunzio Scarano
promete outras revelações embaraçosas sobre a falta de escrúpulos de ao menos
alguns daqueles que lidam com o dinheiro no Vaticano. O prelado de Salerno,
envolvido na tentativa de fazer entrar na Itália 20 milhões de euros da Suíça,
há alguns dias, teria entregue à Procuradoria de Romadocumentos sobre as atividades
da APSA, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, onde ele trabalhou por
22 anos.
Há rumores de que, há algumas semanas, algumas pessoas
definidas como “próximas do IOR” teriam contatado a cúpula italiana de um banco
estrangeiro para avaliar a possibilidade de realizar algumas transações. Não se
fez nada, porque os interlocutores pediram garantias e condições que os
emissários do Instituto não eram capazes de oferecer. Mas, se é verdade, o
episódio confirma o motivo da determinação do papa de ir até o fim.
Reforma
Algumas pistas interessantes sobre a possível reforma do IOR
foram oferecidas há alguns dias por Pellegrino Capaldo, professor emérito de
Economia Empresarial da La Sapienza, tradicionalmente próximo à Santa Sé e
respeitado e ouvido por sempre ter oferecido ao Vaticano ajuda e conselhos.
Dentre outras coisas, em 1982, ele foi um dos três membros de nomeação vaticana
(ao lado de três escolhidos pelo Palazzo Chigi) da comissão mista entre Itália
e Santa Sé encarregada de reconstruir no obscuro caso das relações entre o
banqueiro Roberto Calvi e o IOR. Participando recentemente de um debate,
Capaldo defendeu que o IOR deve voltar às origens, eliminando as anomalias e os
desvios que se manifestaram ao longo dos anos.
A ideia é de transformá-lo, de modo a deixar claro que ele
não é um banco. Para alcançar isso, deveriam ser explicitamente proibidas as
operações que o fazem parecer como tal. A alternativa, segundo Capaldo, é o
desmonte do IOR e a construção de um novo órgão para se confiar tarefas
limitadas às “obras de religião”.
O economista opta pela primeira solução, no entanto. A
dissolução, em sua opinião, é desaconselhável, porque marcaria claramente a
descontinuidade com o passado, mas teria como contraindicação uma avaliação
nada benevolente do modo de agir da Igreja no passado.
Não se trata de uma análise heterodoxa. Ela parece ouvir os
ecos da discussão em curso nas sagradas instâncias. Quando Capaldo expressa a
convicção de que o Vaticano não precisa de um banco, me vem à mente o Papa
Francisco, que, em uma homilia do dia 24 de abril, advertiu: “O IOR é
necessário, mas até um certo ponto”. E as suas críticas à gestão não soam mais
duras do que as feitas pelo pontífice repetidamente.
Transparência
Agora espera-se que as instituições financeiras
internacionais certifiquem a transparência no modo de agir do Vaticano. Em
cinco meses, chegará o relatório do Moneyval, o órgão do Conselho da Europa
chamado a julgar as virtudes ou os defeitos dos Estados em matéria de lavagem
de dinheiro sujo e de financiamento do terrorismo.
Mas, segundo o professor Capaldo, em vez de discutir listas
brancas ou pretas, talvez seria melhor proibir todas as administrações da Santa
Sé, e em particular o IOR, de executar certos tipos de operações. Não foi uma
visão bonita, disse Capaldo, ver o Vaticano negociando por baixo os padrões de
transparência. O ponto de chegada, no entanto, continua indefinido.
O Papa Francisco tem o ar de um engenheiro ao qual foi
confiada a tarefa de demolir os abusos arquitetônicos cometidos durante anos,
impunemente, em um esplêndido edifício. Até agora, ele usou apenas a picareta,
e já se entreveem alguns destroços entre as nuvens de poeira. No entanto, o que
surgirá no fim é indecifrável.
A planimetria da Igreja de Bergoglio está escondida pelos
barulhos e pelos rangidos de um canteiro de obras em atividade febril. Mas,
provavelmente, na cabeça do pontífice e na de ao menos alguns dos seus
eleitores no último conclave, ela está pronta há muito tempo. E logo após do
verão europeu, ela vai revelar contornos e estruturas que, dadas as premissas,
serão surpreendentes e talvez até traumáticos.
Comentário pessoal:
Não resta dúvida que vivemos tempos de convulsões sociais, económicas,
políticas e de conflitos e revoltas generalizadas. São os rumores do fim! Parece-nos
que algo de forte de final está prestes a acontecer; uma revolta dentro do
estado presidido pelo secretismo e a maior ditadura de todos os tempos. Falamos
do estado do Vaticano. Imaginem por um instante o que será Bergoglio por alguns
considerado um “engenheiro” chamado a realizar algumas reparações a opor-se a “papa
interino”. O verdadeiro ou seja o “papa negro”! será uma guerra fraticida ou o
final das “dores”. É certo que Bergoglio fez e faz o máximo para angariar a
simpatia do povo anonimo, chegará isso para ter um exército de populares a
combater contra os generais?
"Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos
salvos." (Jeremias 8 : 20)
O “verão” está a chegar!
José Carlos Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário