Em resposta à crise financeira mundial, o papa Bento XVI pede a criação de uma “verdadeira autoridade política mundial”. Esta nova “autoridade” iria impor políticas mundiais económicas, ambientais e imigratórias para ajudar a construir uma ordem social que “está em conformidade com os padrões morais”. O apelo surge na encíclica recentemente lançada pelo papa, intitulada Caritas in Veritate, ou Amor na verdade.
Grande parte da preocupação do Papa pela justiça social reflecte bem a mensagem do livro de Tiago, que reprova os ricos do mundo nos últimos dias por oprimir e abusar dos pobres (Tiago 5:1-6). A crítica do Papa ao capitalismo desenfreado e desordenado, e seu apelo em favor da ecologia e à acção comunitária para empresas e corporações procura tomar o sentido e o espírito dos profetas do Antigo e do Novo Testamentos. Apela a viver-se um ética de mordomia, altruísmo e cuidado na vida diária e nos negócios em particular.
É admirável o apelo que faz no que concerne aos direitos; estes – diz ele - não podem ser alcançados e promovidos na falta dos deveres dos envolvidos. A liberdade sugere responsabilidade, ou as condições da liberdade desaparecerão.
Porém, é preocupante quando o papa, um religioso, líder espiritual visa a aconselhar os governos sobre a criação de uma entidade política mundial que implemente uma série de práticas políticas, económicas e morais por meio da força e coerção. O papa é claro quanto a esse último ponto. Apela a um consenso mundial no sentido de que a Igreja Católica forme um “corpo político” e que este seja “investido com o poderes efectivos de garantir a segurança para todos, respeito pela justiça e pelos direitos.”
Jesus Cristo, a quem o papa afirma representar aqui na Terra, disse claramente: “Meu reino não é deste mundo. Se o Meu reino fosse deste mundo, os Meus ministros se empenhariam por Mim... mas agora o Meu reino não é daqui” (João 18:36). Um corpo político “investido” com o “poder” para garantir a “segurança” e “conformidade”, como o papa recomenda, necessitaria, obviamente, da utilização de uma força policial ou militar. O qual será a motivação profunda para o Papa fazer um tal apelo?
Se levarmos em conta o que se passou ao longo da história podemos deduzir duas coisas; 1) A Igreja Católica era tida e havida em assuntos dos governos; 2) Essa pretensão renova-se nestes tempos de crise. Sob o manto da caridade a Igreja deseja voltar a ter um papel nestes tempos de conselheiro-mor para a aplicação de uma ordem económica, social e moral. Mas, de acordo com as profecias bíblicas, isto foi previsto pelos profetas.
“A História testifica de seus esforços, astutos e persistentes, no sentido de insinuar-se nos negócios das nações; e, havendo conseguido pé firme, nada mais faz que favorecer seus próprios interesses, mesmo com a ruína de príncipes e povo.” O Grande Conflito, p. 580
O Papa considera que a crise ecológica “oferece uma oportunidade histórica para elaborar uma resposta colectiva tendente a converter o modelo de desenvolvimento global segundo uma direcção mais respeitadora da criação e de um desenvolvimento humano integral”.
Por isso, a mensagem assinala que não se pode avaliar a crise ecológica e económica “prescindindo as questões relacionadas com elas”, desafiando a “uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento” e “o sentido da economia e dos seus objectivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações”.
“A humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural, precisa de redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um futuro melhor para todos”, escreve Bento XVI.
Segundo o Papa, as várias situações de crise que o mundo atravessa - de carácter económico, alimentar, ambiental ou social - “são também crises morais e estão todas interligadas”.
A degradação ambiental, indica, “põe em questão os comportamentos de cada um de nós, os estilos de vida e os modelos de consumo e de produção hoje dominantes, muitas vezes insustentáveis do ponto de vista social, ambiental e até económico”.
Retomando o que escrevera na sua terceira encíclica, Caritas in veritate, Bento XVI precisa que “os deveres para com o ambiente derivam dos deveres para com a pessoa considerada em si mesma e no seu relacionamento com os outros”.
O Papa encoraja a educação para “uma responsabilidade ecológica” que salvaguarde “uma autêntica «ecologia humana» e consequentemente afirme, com renovada convicção, a inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases e condições, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família, onde se educa para o amor ao próximo e o respeito da natureza”.
Bento XVI não deixa de referir que a Igreja “exprime perplexidades acerca de uma concepção do ambiente inspirada no ecocentrismo e no biocentrismo”, considerando que “tal concepção elimina a diferença ontológica e axiológica entre a pessoa humana e os outros seres vivos”.
Concluindo, o Papa afirma que “proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a pessoa”, vendo no combate à actual crise “uma oportunidade providencial para entregar às novas gerações a perspectiva de um futuro melhor para todos”. A este tempo a Igreja é chamada a ser um indicador de caminhos, um “fiel da balança”.
“A sagacidade e astúcia da Igreja de Roma são surpreendentes. Ela sabe ler o futuro. Aguarda o seu tempo, vendo que as igrejas protestantes lhe estão prestando homenagem com o aceitar do falso sábado, e se preparam para impô-lo pelos mesmos meios que ela própria empregou em tempos passados. Os que rejeitam a luz da verdade procurarão ainda o auxílio deste poder que a si mesmo se intitula infalível, a fim de exaltarem uma instituição que com ele se originou. Quão prontamente virá esse poder em auxílio dos protestantes nesta obra, não é difícil imaginar. Quem compreende melhor do que os dirigentes papais como tratar com os que são desobedientes à igreja?” Conflito dos Séculos, p. 580
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