Os esforços no mundo desenvolvido para restringir e substituir as centrais eléctricas a carvão parecem pura e simplesmente quixotescos, quando justapostas à expansão das centrais a carvão da China (e de outros países em desenvolvimento). Seja qual for a redução alcançada na emissão de gases com efeito de estufa, nas economias desenvolvidas do mundo, por substituírem a utilização de carvão, simplesmente será anulada pelo aumento da emissões da novas centrais eléctricas a carvão na China e no resto do mundo.
Salvar o mundo é um motivo nobre para nos tornamos verdes. Mas existe uma outra razão convincente para desejar a implementação, o mais depressa possível, de um regime de redução do dióxido de carbono. É o chamado bom velho puro auto-interesse económico. Se não conseguirmos chegar a acordo para salvar o mundo em benefício de outros, podemos, pelo menos, fazê-lo em benefício próprio. E pronto, gosto de ser utópico. Leio as notícias e elas despertam-me:
Em seis semanas terão morrido 17 533 pessoas devido a fenómenos extremos como a onda de calor na Rússia, as cheias na Europa Central e de Leste, no Paquistão, Índia e China. São "manifestações das alterações climáticas", dizem alguns especialistas. 2010 foi, até agora, o ano em que o planeta esteve mais quente. Onda de calor russa só é comparável à de 2003. Em Portugal, temperaturas elevadas já mataram mil pessoas este ano.
Onda de calor histórica, seca severa e incêndios na Rússia. Chuvas intensas num curto espaço de tempo na Europa Central e de Leste, cheias invulgares no Paquistão e na Índia, chuvadas acompanhadas de deslizamentos de terras na China.
As catástrofes que assolam estas zonas do globo nos últimos tempos poderão não estar ligadas entre si, mas são fenómenos extremos, cada vez mais frequentes e intensos, que constituem uma manifestação das alterações climáticas.
"São acontecimentos que se reproduzem e intensificam num clima perturbado pela poluição de gases com efeito de estufa", declarou à AFP Jean-Pascal Van Ypersele. "Os acontecimentos extremos são uma das maneiras pelas quais as mudanças climáticas se tornam dramaticamente perceptíveis", acrescentou o vice-presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC).
"Acredito que há já uma grande manifestação das alterações climáticas. O clima define-se através de observações meteorológicas de 30 anos. E o que se tem observado é uma maior frequência e intensidade de fenómenos extremos", afirmou ao DN Filipe Duarte Santos, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
No caso da Rússia, há um anticiclone instalado que, "ao ficar muito tempo no mesmo sítio, causa secas. Tudo indica que o anticiclone fica mais tempo do que deve por causa das alterações climáticas", acrescentou o especialista português, que vai ser um dos editores do próximo relatório do IPCC em 2013.
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