Em 1982, tive a oportunidade de ser convidado a uma missa na capela particular do papa, em Roma, celebrada por João Paulo II. Presentes estavam o alto clero, dirigentes políticos, gente famosa e de prestigio. Eu, seguramente, o mais humilede e anónimo de todos. Quando soou o momento do papa entrar todos nos colocámos de pé. Pensei que isso era normal, deixou de o ser quando vi toda aquela gente prestigiada, como loucos a lançarem-se uns sobre os outros para beijar a mão do papa. Eu, fui uma das pessoas a quem ele dirigiu a mão. Disse-lhe respeitosamente que a minha adoração ia exclusivamente para o Senhor do Céu, ele lentamente baixou a mão e foi-se embora.
O que vos conto foi visto repetidamente na estadia deste papa a Portugal, como se alguma graça daí adviesse, todos lhe beijavam a mão como se de Deus se tratasse! Deixo o relato tipico dos que pouco ou nada virados para a Palavra de Deus, têm nestas coisas a sua devoção.
Maria Amélia Pinto de Barros, portuense de 75 anos, casaco de caxemira, gola de vison, carteira Vuitton e cabelo impecável (é gerente comercial reformada, informa) vem aqui "desde bebé". Porquê? "Sei lá. Talvez porque os meus pais me trouxeram. Sou do tempo em que era tudo lama, e não havia onde ficar, dormíamos no carro. Agora... É quase uma romaria, para não dizer que é mesmo uma romaria." Sorri. "Tenho dito: agora vou ouvir o Papa." Bento XVI lê uma mensagem e dirige-se a seguir, de novo no papamóvel, para o cimo do recinto, para a nova Igreja da Santíssima Trindade.
Lá dentro, espera-o uma assembleia composta sobretudo por religiosos e religiosas. Mas quando o Pontífice entra o templo é um cenário de concerto pop: palmas e gritos, pessoas em pé sobre o espaldares das cadeiras e dezenas de telemóveis ao alto, a filmar e a fotografar.
Não chega contemplar e sentir, parece, nem sequer entre aqueles a quem a seguir o Papa vai falar, na sua voz pausada, agora cada vez mais rouca, às vezes quase inaudível, ningém saber escutar com o coração e do coração não vem nada...nem exemplo!
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