Para muita gente, a maneira de ser da igreja anglicana é motivo de confusão. Por exemplo, como ser católico e protestante ao mesmo tempo? Como incluir conservadores e liberais sob o mesmo título denominacional? Como ser uma igreja hierárquica (dirigida por bispos) e democrática (governada pelo clero e povo) ao mesmo tempo? Como entender o conceito da diversidade na unidade? Na prática, isso significa que a Igreja Episcopal não diz taxativamente aos seus membros: “Você tem de fazer isso ou aquilo. Ao contrário, adota uma atitude de conselho e recomendação: “para o seu bem e crescimento na vida em comunidade, convém que siga o que ensina a sabedoria da igreja, guiada pelo Espírito Santo e pelas Sagradas Escrituras. Por isso, para ajudar as pessoas que a procuram, a Igreja Episcopal Anglicana oferece conselhos e ajuda pastoral, formação educacional, espírito de solidariedade, adoração individual e pública e os sacramentos da graça de Deus. Jesus disse que da mesma forma em que havia sido enviado pelo Pai, assim Ele também nos enviaria (João 20:21). Baseada nesse princípio, a Igreja Anglicana focaliza a sua missão universal em cinco pontos:
• Proclamar as boas novas do Evangelho;
• Baptizar, ensinar e nutrir pastoralmente os fiéis;
• Servir com amor aos necessitados;
• Lutar pela transformação das estruturas injustas;
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Henry VIII |
• Zelar pela integridade da vida em todas as suas manifestações.
A Igreja separou-se da Igreja Católica romana com Henrique VIII , ele fundou uma nova igreja, separada da tutela e controlo romanos por razões políticas, económicas, religiosas e até pessoais. Durante séculos a Igreja da Inglaterra esteve sob o domínio direto de Roma. Henrique VIII rompeu essa antiga filiação eclesiástica com o apoio do Parlamento. Separada e independente, a Igreja da Inglaterra assumiu os princípios professados por João Calvino e resumidos acima. Em 1559, começou o reinado de Isabel I, e com ela veio o controvertido Ato de Uniformidade, que devolveu à rainha o mesmo poder sobre a igreja que tinha Henrique VIII. A era elizabetana foi um período de apogeu. Foi nessa época que começou a colonização da América, onde a igreja anglicana se desenvolveu rapidamente e se organizou principalmente depois da independência americana em 1776.
Agora a Igreja Anglicana já deixou de ter interesse no que diz a Bíblia, os seus padres dedicam-se cada vez menos à evangelização e mais ao estudo, tornaram-se materialistas e o seu sentido de “reforma” perdeu-se. Pensaram; “o que estamos aqui a fazer separados da nossa mãe católica?” A mãe “carinhosamente” está a receber esta filha, bem como a luterana e a do Oriente. Assim, a Igreja Católica irá estabelecer uma nova estrutura canónica, denominada Ordinariatos Pessoais, para os religiosos anglicanos e outros que desejarem entrar "em plena e visível comunhão" com a Igreja. O anúncio da nova estrutura foi feito pela imprensa na Sala de Imprensa da Santa Sé pelo cardeal William Joseph Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que sucedeu ao então cardeal Joseph Ratzinger no cargo.
"Com a preparação de uma Constituição Apostólica, a Igreja Católica está respondendo aos muitos pedidos que foram submetidos à Santa Sé por grupos de clérigos e fiéis anglicanos e outros, em diferentes partes do mundo, que desejavam entrar em plena comunhão com a doutrina católica", explicou o cardeal Levada. O documento será publicado em breve.
Isso significa que a Igreja Católica abre as suas portas para que antigos afastados "entrem em plena comunhão com a Igreja Católica enquanto preservam elementos do distinto património espiritual e litúrgico das suas antigas confissões", conforme a nota da Congregação. Isso significaria completamente uma nova forma canónica, similar aos Ordinariatos Militares.
A Igreja Católica abre as suas portas para bispos, padres não-casados e casados e para pessoas leigas, destas igrejas. Somente sacerdotes casados, e não bispos - devido à longa tradição Ocidental e Oriental Cristã - é que serão aceitos. Os bispos casados anglicanos serão recebidos na Igreja Católica, mas em qualidade de presbíteros. A Congregação para a Doutrina da Fé recebeu cerca de 20 a 30 pedidos de bispos anglicanos da Grã-Bretanha, e em torno de 50, de todo o mundo. Pedidos de padres e leigos são contados às centenas.
Os aspectos canónicos e litúrgicos estão em processo. Será estabelecido um novo rito correspondente à prática e à tradição católicas. Porque "a unidade da Igreja não exige uma uniformidade que ignora a diversidade cultural, como a história do Cristianismo mostra", explicou o cardeal. "Nossa comunhão é, portanto, reforçada por tão legítima diversidade", assegurou o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé.
"Os acordos da Comissão Internacional Anglicana-Católica-Romana (ARCIC) e da Comissão Internacional Anglicana-Católica-Romana para a Unidade e Missão (IARCCUM) deixam claro o caminho que seguiremos juntos". O processo de preparação, que consiste em reflexão e orações, começou em 2006 em Leeds, na Grã-Bretanha, e continuou em 2008, em Lambeth. Essa "cooperação estreita", como ressalta o "Comunicado Conjunto do arcebispo de Westminster e do arcebispo de Canterbury", irá continuar.
Desde o século XVI, quando o rei Henrique VIII declarou a Igreja na Inglaterra independente da autoridade papal, a Igreja inglesa criou as suas próprias confissões doutrinais, livros litúrgicos e práticas pastorais, muitas vezes incorporando ideias da Reforma no continente europeu. A expansão do Império Britânico, junto do trabalho missionário anglicano, eventualmente provocou o surgimento de uma Comunhão Anglicana Mundial.
Através de mais de 450 anos da sua história, a reunificação de anglicanos e católicos nunca esteve fora de cogitação. Em meados do século XIX, o movimento inglês Oxford viu o restabelecimento do interesse nos aspectos católicos do anglicanismo. No começo do século XX, o cardeal Mercier, da Bélgica, entrou em conhecidas conversas com os anglicanos para explorar a possibilidade de união com a Igreja Católica sob a bandeira de um anglicanismo "reunido, mas não absorvido".
No Concílio Vaticano II, a esperança de uma união foi ainda mais alimentada quando o Decreto sobre o Ecumenismo (n.13), referindo-se a comunhões separadas da Igreja Católica na época da Reforma, estabelecia que "entre aqueles nos quais as tradições e instituições católicas em parte continuam a existir, a Comunhão anglicana e todas as outras filhas separadas ocupam um espaço especial".